Direitos Humanos: Papa Francisco denuncia «trabalho escravo infantil» causado pela «falta de vida digna das famílias»

Encontro da FAO sobre a eliminação do trabalho infantil na agricultura, conta com presença do cardeal Pietro Parolin que pediu sistema jurídico “adequado e eficaz, tanto internacional como nacional” que defenda «sonhos das crianças»

Foto: Lusa

Cidade do Vaticano, 02 nov 2021 (Ecclesia) – O Papa Francisco denunciou hoje o trabalho infantil e as condições de pobreza em que vivem muitas famílias, o que tem levado a “um número crescente de menores a abandonar a escola” e a ser alvo “de escravatura”.

“Milhares de meninos e meninas são obrigados a trabalhar incansavelmente, em condições exaustivas, precárias e desanimadoras, sofrendo maus-tratos, abusos e discriminação. Mas a situação chega ao cúmulo da desolação quando são os próprios pais que são obrigados a mandar seus filhos para o trabalho, porque sem a sua contribuição ativa não seriam capazes de sustentar a família”, evidencia uma mensagem do Papa Francisco, assinada pelo Secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin, na sessão inaugural do Encontro Global da FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, sobre a eliminação do trabalho infantil na agricultura.

A mensagem foca a necessidade de um sistema jurídico “adequado e eficaz, tanto internacional como nacional”, que defenda os sonhos das crianças da “mentalidade tecnocrática nociva que se instalou no presente”.

O trabalho infantil, sublinha, “fere cruelmente a existência digna e o desenvolvimento harmonioso dos mais pequenos” e representa uma limitação das “oportunidades de futuro”, colocando em primeiro plano “as necessidades produtivas e lucrativas dos adultos”.

“A pandemia tem levado um número crescente de menores a abandonar a escola para, infelizmente, cair nas garras desta forma de escravatura. Para muitos destes nossos irmãos mais novos, não ir à escola significa não só perder oportunidades que lhes permitam enfrentar os desafios da vida adulta, mas também adoecer, ou seja, ser privado do direito à saúde, pelas condições deploráveis em que eles devem realizar as tarefas que são covardemente exigidas deles”, sublinha a mensagem.

O Papa Francisco urge na mensagem ao “investimento mais lucrativo que a humanidade pode fazer” que indica ser proteger as crianças: “Proteger as crianças significa respeitar o momento do seu crescimento, deixando que estes frágeis rebentos beneficiem das condições adequadas para o seu florescimento”.

Para que o respeito pelo crescimento das crianças aconteça, são necessárias “medidas incisivas para ajudar as famílias dos pequenos agricultores” a viver com “dignidade”, para que estas “não sejam obrigados a mandar os seus filhos para o campo para aumentar sua renda”.

“Proteger as crianças implica agir de forma que se abram horizontes que as configurem como cidadãos livres, honestos e solidários”, indica.

A mensagem reconhece um fenómeno “cada vez mais preocupante” e pede que a lógica do lucro dê lugar à “lógica do cuidado”.

“É necessário um trabalho de denúncia, educação, conscientização, convicção para que quem não tenha receio de escravizar a infância com fardos insuportáveis possa ver mais longe e mais fundo, superando o egoísmo e essa ansiedade de consumir compulsivamente, que acaba por devorar o planeta, esquecendo que os seus recursos devem ser preservados para as gerações futuras”, sublinha.

A mensagem indica o empenho da Igreja e das instituições católicas para o combate a este “flagelo” e pede um compromisso “conjunto e perentório” para que as crianças “cultivem sonhos, brinquem, se preparem e aprendam”, sem “um presente de exploração laboral”, para que, desta forma, se possa abrir um “caminho para um futuro brilhante para a família humana”.

LS

 

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Agência ECCLESIA

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