Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
A Diocese do Funchal nasceu com uma identidade global, de espírito aberto e universalista, olhando para o mundo descoberto e por descobrir com uma visão missionária. A identidade do catolicismo madeirense foi construída entre partidas e chegadas, encontros e desencontros, diálogos e conflitos com o conhecido e o desconhecido. Os missionários que dali partiram e os que na ilha encontravam uma rampa de lançamento para novos desafios fizeram desta Igreja particular um ponto difusor do Evangelho no mundo, suscitando e apoiando muitas vocações para a missão de sacerdotes, religiosos e religiosas, um chamamento que hoje se estendeu a leigos e leigas, em vários pontos do mundo.
A chegada de um novo bispo, o 33.º em cinco séculos de história, convida a uma reflexão sobre o papel de vanguarda que o território desempenhou nas descobertas ultramarinas dos séc. XV e XVI, com repercussões do ponto de vista religioso, com o Funchal a servir como porta de saída e ponto de referência nas rotas e nos contactos da Europa com os novos territórios da África, América e Ásia.
Este passado não é apenas como algo que está para trás, como se fosse um fardo que se carrega, mas caminha lado a lado com o presente.
O anúncio do Evangelho gerou testemunhos exemplares e superou as dificuldades que foram surgindo, como os tempos particularmente complicados que a Igreja enfrentou com o advento do liberalismo, o proselitismo protestante ou a implantação da República. A diocese, berço de missionários, preocupou-se com a sua própria evangelização e estendeu-se ao longo do território, com os seus valores de sempre e novas dinâmicas, envolvendo cada vez mais as comunidades católicas nas suas estratégias pastorais e reorganizando o território de forma a aproximar-se das populações.
A Madeira cresceu com uma profunda ligação entre o ser humano, Deus e a natureza, típica da espiritualidade franciscana, e formou missionários que participariam de várias maneiras na missão evangelizadora levada a cabo em vários pontos do planeta. A mobilidade que desde sempre marca a história do arquipélago, fruto de diversas contingências e do natural desejo de procurar uma vida melhor noutras paragens, contou também com uma dimensão de fé, tanto pela vocação missionária de quem se dedicou à transformação espiritual dos novos territórios como dos emigrantes que afirmaram a sua religiosidade em contextos desconhecidos e mesmo adversos.
Os contactos com povos de várias origens étnicas e religiosas ajudaram a fazer da Igreja Católica na Madeira uma comunidade com consciência de participação na missão universal, que foi amadurecendo ao longo da sua história de forma a desenvolver, interna e externamente uma ação evangelizadora a partir da comunidade católica. A Diocese do Funchal nasceu e desenvolveu-se em chave missionária e sem esta dimensão é impossível compreender o seu papel no contexto português e mundial.