Seis comunidades religiosas juntaram-se em Lisboa para debate sobre «Democracia e Diálogo»
Lisboa, 23 nov 2013 (Ecclesia) – O diálogo inter-religioso como instrumento para a promoção da paz uniu hoje seis comunidades religiosas em Lisboa, na conferência sobre «Diálogo e Democracia», organizada pela Comissão Nacional Justiça e Paz.
“O diálogo inter-religioso deve ser pioneiro no ultrapassar o politicamente correto”, afirmou José Eduardo Borges de Pinho, sublinhando que sem uma sociedade “equilibrada” não haverá paz.
O professor de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP) advertiu para o perigo da instrumentalização da religião, realçando a importância de um “diálogo marcado pela verdade”.
“A paz construída pelas religiões deve ser feita nas famílias, nos bairros habitacionais, nas escolas, através de valores e gestos que revelem a identidade mais profunda de cada religião”, sublinhou durante o painel «O diálogo interreligioso na construção da paz na Europa», inserido na conferência «Diálogo e Democracia» que hoje decorre na UCP.
Para o representante da Aliança Evangélica Portuguesa, Fernando Soares Loja o diálogo inter-religioso “não é uma busca da conversão do outro”, mas sim uma busca do “conhecimento do outro”.
“O diálogo não é um fim, mas um instrumento produtivo onde devem ser apontados caminhos”, sublinhou na conferência.
Questionado sobre o tempo de emissão das confissões religiosas na televisão pública, Fernando Soares Loja garante que haverá sempre programas gravados em estúdio: “A nossa maior preocupação prende-se com o financiamento para a realização dos programas no exterior, uma vez que o financiamento do Estado à RTP está em aberto”.
Abdul Vakil, presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, apontou a abertura de João XXIII, afirmada na encíclica «Pacem in Terris»: “A encíclica teve um forte impacto em mim, enquanto muçulmano. Senti-me incluído, senti-me gente, enquanto homem de boa vontade”.
Para Zohora Pirbhai, da Comunidade ismaelita, a construção do futuro depende da defesa de um projeto “pluralista para a sociedade”, onde seja preconizada uma “ética de inclusão”, pois, assume, “a diversidade é qualidade de vida”.
“Para o diálogo, é fundamental o reconhecimento da dignidade humana. Só assim se consegue uma paz verdadeira e duradoura”, declarou.
Através de um testemunho gravado pelo rabino Eliezer Shai di Marino, que não esteve presente por estar a guardar o sábado, a comunidade judaica assinalou as capelanias hospitalares como “um dos bons frutos” conjuntos.
O rabino alertou ainda para a “ignorância passiva – que não se envolve” e para a “ignorância ativa – não conheço e não quero conhecer”, como facilitadoras de conflitos.
O painel contou ainda com o testemunho da comunidade Hindu, através de Niteshkuar Trivedi e de Sarojben Parshotan.
Na moderação do debate, o padre João Lourenço, diretor da Faculdade de Teologia da UCP alertou para a necessidade de formação junto das gerações mais novas.
“É um problema real a falta de sensibilidade e abertura de espírito, sendo necessária a formação dos futuros líderes. O esforço é mais necessário, mais ainda neste contexto que não está a favor”, advertiu.
A conferência promovida pela CNJP quer assinalar os 50 anos da encíclica «Pacem in Terris», escrita pelo beato João XXIII.
LS