Frei Filipe sublinha mudança de perfil das pessoas mais carenciadas, com impacto visível da crise
Lisboa, 13 nov 2022 (Ecclesia) – O responsável pela Associação ’João 13’, de apoio a sem-abrigo e pessoas carenciadas em Lisboa, lamentou a falta de investimento para acabar com a pobreza, que considera uma “hemorragia” na sociedade.
“Enquanto não houver aqui uma decisão política, social, não só de apoio às pessoas sem-abrigo, às pessoas mais frágeis, mas de acompanhamento e de interesse, não vamos conseguir, porque isto não é uma ferida, é uma hemorragia”, referiu frei Filipe Rodrigues, em entrevista conjunta à Agência ECCLESIA e Rádio Renascença.
O religioso confirma que há mais estrangeiros e mais jovens a precisar de ajuda, a viver na rua ou em quartos, e situações dramáticas mesmo entre quem trabalha.
“Um está a dormir na rua, e a mala das ferramentas é a almofada dele”, conta frei Filipe Rodrigues, responsável pela associação de voluntários ligada aos dominicanos, que desde 2015 apoia pessoas carenciadas e em situação de sem-abrigo em Lisboa.
O entrevistado precisa que o perfil de quem atendem mudou: 60% têm menos de 50 anos, e há mais utentes que até trabalham, mas não ganham o suficiente para subsistir.
Entre os jovens que dormem na rua, encontraram duas grávidas de 18 anos.
“Quando falamos em sem-abrigo, não é só as pessoas que não têm em casa. As que estão em quartos também são consideradas pessoas em situação de sem-abrigo”, acrescenta.
A ‘João 13’ foi distinguida com a Medalha de Ouro dos Direitos Humanos, pelo Parlamento Português, uma decisão anunciada na última semana, já após a realização da entrevista.
Frei Filipe Rodrigues conta que no NAL – Núcleo de Apoio Local de São Vicente, há preocupação com a “dignidade” de quem é pobre, alertando para o impacto da crise no setor da habitação.
“Empurrar as pessoas para a rua é uma das coisas que observamos muito. É empurrar as pessoas para a rua, porque as pessoas não conseguem sustentar a vida pobre que já tinham”, adverte.
No refeitório servem em média 75 jantares – refeições quentes diárias -, mas também asseguram pequeno-almoço, banho e roupa lavada, e quem precisa é encaminhado para o dentista.
Para frei Filipe Rodrigues, é preciso “fazer zoom” à realidade da pobreza, porque a crise está a “empurrar” mais pessoas para a rua, mas faltam meios técnicos e humanos para o acompanhamento sério das situações.
No VI Dia Mundial dos Pobres, o religioso elogia a iniciativa do Papa Francisco, que chama a atenção para uma realidade a que ninguém deve ser “indiferente”.
“Hoje na Missa, irei dizer às pessoas que, ao almoçar, se virem alguma pessoa na rua, sem-abrigo, que lhe vão dar o almoço”, exemplifica, sublinhando a importância de olhar para cada pobre como “um irmão”.
Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)