Mensagem de Francisco sublinha riscos da utilização da inteligência artificial, em contexto militar
Lisboa, 31 dez 2023 (Ecclesia) – O general Luís Valença Pinto considera que a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz (1 de janeiro) de 2024 deixa um alerta contra as chamadas “guerras limpas”, com a utilização da inteligência artificial, em contexto militar.
“É a ilusão de que pode haver guerras em que os nossos não morrem, só os outros é que morrem, e morrem cirurgicamente, morrem muito limitadamente”, explica à Agência ECCLESIA o antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas de Portugal.
Na sua mensagem para esta celebração, intitulada ‘Inteligência Artificial e Paz’, o Papa refere que “a possibilidade de efetuar operações militares através de sistemas de controle remoto levou a uma perceção menor da devastação por eles causada e da responsabilidade da sua utilização, contribuindo para uma abordagem ainda mais fria e destacada da imensa tragédia da guerra”.
O general Valença Pinto destaca que, em todas as situações, a decisão “está nas mãos dos homens” e que “não há guerras causadas por nenhuma arma”.
“A facilidade de carregar um botão e mandar um meio militar autónomo atuar, a milhares e milhares de quilómetros de distância, gera um certo sentimento de banalização da violência. E daí, infere-se um risco de menor responsabilidade dos decisores políticos”, aponta.
Para o especialista, é necessário que “as consciências políticas, e, de uma forma geral, as consciências dos homens e das sociedades, reflitam acerca disto e sejam capazes de encontrar mecanismos de regulação”.
“Os conflitos estão onde estão os seres humanos, onde estão os centros de decisão, os centros industriais, etc. E, realmente, é cada vez mais difícil distinguir entre militares de civis, combatentes e não combatentes”, admite.
O entrevistado assume que se vive uma “situação dramática” no Médio Oriente e estima que a guerra na Ucrânia tenha efeitos a longo prazo.
“Na Ucrânia, as armas podem silenciar-se, mas entre isso e uma paz autêntica vai uma grande distância”, precisa, em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública.
O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 por São Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia de cada ano, com uma mensagem papal.
“No início do novo ano, a minha oração é que o rápido desenvolvimento de formas de inteligência artificial não aumente as já demasiadas desigualdades e injustiças presentes no mundo, mas contribua para pôr fim às guerras e conflitos e para aliviar muitas formas de sofrimento que afligem a família humana”, escreve Francisco.
LFS/OC
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