Professor universitário destaca importância do «pensamento crítico», proposto em mensagem do Papa
Lisboa, 20 dez 2023 (Ecclesia) – O investigador Miguel Oliveira Panão salienta que a inteligência artificial é uma “ferramenta revolucionária”, que pode ser “muito bem usada”, admitindo que também “há perigos”, como refere a mensagem do Papa para o próximo Dia Mundial da Paz.
“A ferramenta é revolucionária, é séria, e pode ser muito bem usada, pode desbloquear muitas coisas, mas também pode bloquear muitas coisas. E o Papa, quando alarga o horizonte da inteligência artificial, que às vezes é centrado na técnica, ou seja, como é que funciona, como é que podemos utilizar, para dizer, não, mas que impacto é que tem na sociedade”, disse à Agência ECCLESIA.
O professor universitário destaca que o Papa se refere também ao impacto da inteligência artificial nos relacionamentos, na educação, na política, nas decisões que cada pessoa toma, “porque já está a acontecer”.
Neste contexto, o alerta do entrevistado, que Francisco “já faz um bocadinho” na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2024, é a importância do “pensamento crítico”, porque “são ferramentas, não são alguém”.
‘Inteligência Artificial e Paz’ é o tema da mensagem do Papa para o próximo Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2024), Francisco denuncia, por exemplo, os riscos de sistemas de regulação das “opções pessoais” baseados em algoritmos, com riscos de manipulação de indivíduos e sociedades.
O Papa alerta, por exemplo, para os riscos da utilização da inteligência artificial em contexto militar, apelando à aplicação das tecnologias em áreas que promovam o desenvolvimento humano, aponta desafios colocados ao desenvolvimento do direito internacional.
Miguel Oliveira Panão sublinha que a inteligência artificial “é uma ferramenta”, pode ser usada, “mas não fazer dela alguém”, e lembra “pode interferir mesmo em opções”, como já se viu em campanhas eleitorais, “portanto, há aqui uma zona de perigo, de grande perigo”.
“Nós, como seres humanos, estamos ainda em evolução, e se nós achamos que moldamos as ferramentas, muitas vezes nos esquecemos que as ferramentas nos moldam. Por isso, a questão da inteligência artificial é como é que nós seremos moldados no futuro”, desenvolveu.
Para o investigador científico, aquilo que lhe parece importante é ter “consciência” daquilo a que se dá valor e “orientar o uso das ferramentas para aquilo que realmente traz valores”, porque “é bom usá-las como algo”, para que as pessoas possam “ser alguém e ver o alguém dos outros”.
“Por outro lado, também significa que se calhar o futuro pode passar, não tanto pelo online, mas pelo offline. Precisamos de mais espaços para estar offline”, observa o professor universitário, que há cerca de um mês escreveu sobre este tema – ‘O Futuro é offline’ – num artigo de opinião publicado na Agência ECCLESIA.
Miguel Oliveira Panão privilegia o cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade, encontra-se a sua visão em inúmeros textos que escreve, pertence ao Movimento dos Focolares.
A conversa onde partilha a sua vida pode ser acompanhada esta noite no Programa ECCLESIA , na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e escutada posteriormente no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».
LS/CB/OC