Nove empregados com dificuldades de desenvolvimento cognitivo e trissomia 21 recebem formação, mostrando como «na prática, a atitude de estranheza não acontece»
Lisboa, 03 dez 2021 (Ecclesia) – O ‘Café Joyeux’ abriu em Portugal o seu primeiro estabelecimento, com o objetivo de formar e empregar pessoas com trissomia 21 e dificuldades de desenvolvimento cognitivo no espetro do autismo.
“Não faz sentido que estas pessoas estejam em casa, a recuar no que aprenderam na escola apenas porque não há uma solução adequada às suas capacidades”, explica à Agência ECCLESIA Filipa Pinto Coelho, responsável pelo Joyeux Portugal e pela empresa Vila com Vida.
O estabelecimento abriu portas recentemente e emprega nove pessoas, acompanhadas por “tutores que os formam e auxiliam”, mas o objetivo é colocar “os nove empregados na linha da frente”.
Para além da inclusão no mundo laboral, o ‘Café Joyeux’ aposta na formação o que permite ter, no final de dois anos, pessoas competentes e com conhecimentos validados para continuar a trabalhar ali ou noutro local.
No estabelecimento amarelo onde tudo é ‘servido com o coração’, localizado em Lisboa junto à Assembleia da República, os empregados passam por quatro postos de formação: serviço de mesa, barista, caixa e serviço de cozinha.
“Quando são entrevistados perguntamos o que gostariam e fazer em primeiro lugar e é por aí que começam a sua atividade. Ficam cerca de seis meses nessa função para consolidar bem essa aprendizagem, e passam para a função seguinte. Ao fim de dois anos é suposto eles serem polivalentes, receberem o seu diploma, e poderão continuar a trabalhar no Café Joyeux mantendo o contrato de trabalho ou continuar a trabalhar noutro local, ter outras experiências, mas já capacitados”, explica Filipa Pinto Coelho.
Pedro Manso tem 22 anos e já acumulou experiências em outros locais, onde trabalhava no atendimento ao público, sabendo bem que para atender os clientes importa “ter empatia, ser simpático, e procurar satisfazer as necessidades” de quem entra no estabelecimento.
David Silva, com 25 anos, encontra neste projeto a possibilidade de sonhar a sua vida.
“É um bom projeto, se tudo correr bem, vamos ter aqui um emprego. E estou a trabalhar para isso mesmo. Sonho ter um emprego, mais tarde ter uma namorada e ser pai. Tenho isso planeado”, conta.
Também Sebastião Galvão, com 24 anos, valoriza o emprego no ‘Café Joyeux’, depois de outras experiências que não resultaram.
“É uma grande oportunidade e estas pessoas também merecem e precisam de mais espaço. Está a ser bom, estou a gostar muito. Poder estar nesta equipa maravilhosa e ajudar os meus colegas é sempre bom”, reconhece o jovem, enquanto serve os clientes à mesa.
Na cozinha, a responsável de operações, Isabel Metelo, reconhece capacidades e competências, ainda que, o tempo de desenvolvimento dos empregados tenha de ser respeitado.
“ Sei que vão conseguir. Sei que têm imensa capacidade e vontade de trabalhar. A esperança é que eles percebam que têm autonomia e lhes vão ser dadas oportunidades aqui ou noutro sítio para realizarem os seus sonhos”, valoriza.
Para Filipa Pinto Coelho “teoriza-se muito” sobre o mundo da inclusão, quando “na prática, as pessoas não têm nenhuma atitude de estranheza”.
“As pessoas têm medo do que não conhecem e por isso medo de incluir, mas quando conhecerem pessoas assim, se relacionarem com elas, forem servidos por elas, olharem uns para os outros – é tão importante, não ouvir falar dos outros mas ouvir a sua voz – naturalmente recrutar alguém com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento vai passar a ser normal”, explica.
A responsável manifesta a esperança de o ‘Café Joyeux’ poder “contribuir para abrir cabeças”, fazendo do espaço “apenas um café agradável que dê o exemplo, tal como outros ao lado farão o mesmo”.
A reportagem vai ser emitida no programa ’70×7′, este domingo, na RTP2, às 07h30, numa emissão dedicada à inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
LS