Dia do Pai: Quando ser dador de medula significa gerar uma nova vida

Pedro Guerreiro de Sousa ajudou a salvar uma criança que nunca conheceu, mas com quem mantém uma ligação «transcendente»

Família Guerreiro de Sousa

Lisboa, 19 mar 2021 (Ecclesia) – Pedro Guerreiro de Sousa foi dador de medula óssea para ajudar uma criança, na altura com a idade do seu filho mais velho, que necessitava de um transplante para sobreviver, num gesto gratuito semelhante ao significado da paternidade.

“Na verdade, os heróis são os técnicos e os médicos que acompanharam aquela pessoa, e a própria pessoa. Nós darmos é simples: estamos saudáveis e, neste processo somos quem teve sorte, porque fomos os escolhidos para dar”, explica à Agência ECCLESIA, relembrando um gesto que aconteceu em 2009 e que nunca mais esqueceu.

Se ser pai é dar a vida de forma abnegada e gratuita, além dos filhos que tem – Diogo, Sofia e Santiago, Pedro Guerreiro de Sousa afirma “meio a sério, meio a brincar” que tem mais um filho desconhecido.

“Se tecnicamente o processo é simples, do ponto de vista emocional há uma ligação, uma curiosidade em saber como ele está. Eu olho para o meu filho mais velho e imagino como estará ele hoje, imagino que existe alguém que eu pude ajudar. Por isso digo, meio a brincar meio a sério, que tenho três filhos e meio”, conta.

A doação começou com uma inscrição no Centro Nacional de Dadores de Células de Medula Óssea, Estaminais ou de Sangue do Cordão (CEDACE) que em Portugal tem a responsabilidade de fazer o registo nacional de dadores voluntários de Medula óssea; passados alguns anos Pedro recebeu um telefonema dando conta da sua compatibilidade com um paciente.

Apesar da natural curiosidade para conhecer o recetor, todo o processo é anónimo por motivos deontológicos, por se tratar de um gesto gratuito, e para que, no caso de o transplante não resultar, o dador não se sentir responsável.

“Consegui saber que era uma criança, na altura com a idade do meu filho mais velho, com oito anos, vivia fora do país e que precisava da minha medula. É um processo que do ponto de vista pessoal é muito gratificante. Senti que foi uma dádiva de Deus, que me pediu esta missão”, conta.

Família Guerreiro de Sousa

Pedro Guerreiro de Sousa recorda reações “difíceis de exprimir racionalmente” mas que do ponto de vista emocional eram importantes e o faziam sentir implicado em todo o processo.

“Lembro-me que nos dias antes da doação passei a conduzir com mais cuidado; quando tive de dar umas injeções intradérmicas, para induzir o crescimento de medula, não quis que outra pessoa o fizesse, tal era a responsabilidade que sentia”, recorda.

Com o início do processo de doação, são realizados vários testes de compatibilidade e de confirmação que o dador está saudável, exames que Pedro Guerreiro de Sousa realizou na altura, no IPO; no dia da doação, foi-lhe retirado medula do sangue, posteriormente filtrada para que o recetor o pudesse receber em condições.

“Tenho a imagem de, no fim, o médico pegar num saco e dizer: temos aqui o nosso menino, vamos enviar para França”, recorda.

O sangue de Pedro Guerreiro de Sousa, a marca da sua identidade mais íntima, chegou a uma criança, hoje, jovem adulto, com quem, sendo desconhecido, mantém uma ligação “transcendente”.

“Este caso concreto liga-me a uma pessoa e acaba por ser um pouco transcendente. Houve uma fase complicada, para mim, de alguma ansiedade, sem saber se tinha resultado. Meses depois consegui saber que tinha ficado tudo bem. A partir daí, é uma coisa que faz bem ao coração, que nos alegra, é uma coisa importante que nos acontece na vida”, sublinha.

Desde 1995, quando foi criado, o CEDACE concretizou 1168 doações: 374 para doentes transplantados em Portugal e 794 destinados a pacientes no estrangeiro.

A base nacional regista atualmente 402 864 dadores inscritos.

No estrangeiro, num universo de 54 países, o CEDACE confirmou, no início do mês de março, o registo de mais de 37 milhões de dadores e 800 964 unidades de sangue de cordão umbilical, num total de mais de  38 milhões potenciais dadores.

Nos últimos cinco anos a média anual nacional de inscrições para dador de medula óssea é de 13 056 pessoas.

O programa ’70×7′ do próximo domingo (17h30, RTP2)  é dedicado ao Dia do Pai e vai apresentar diferentes experiências de paternidade.

LS

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