Cáritas já recolheu 135 mil Euros em donativos
A Cáritas Portuguesa convida todos a fazerem desta Terça-feira um dia de oração pelo Haiti, em sintonia com a Missa que D. Carlos Azevedo, Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, celebra na igreja de Santa Isabel, em Lisboa, às 19h00.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o prelado esclareceu que os donativos angariados pela Igreja serão remetidos para a Cáritas Portuguesa, que tem “mais experiência” neste género de campanhas. .
A escolha foi justificada com a necessidade de evitar recorrer a “super-estruturas”. Por outro lado, é através daquele Organismo “que normalmente se reúnem os meios quando há uma emergência”, recordou o Bispo auxiliar de Lisboa.
O dinheiro recolhido através das iniciativas promovidas pelas dioceses será canalizado para a conta «Cáritas ajuda Haiti», que está igualmente a receber as ofertas dos “homens e mulheres de boa vontade que queiram colaborar”.
A Cáritas pede a todas as comunidades que rezem pelas vítimas do sismo no Haiti e solicita aos padres que, nas eucaristias a que presidirem nesta Terça-feira, tenham presente os que morreram e estão a morrer por causa do terramoto.
A oração é também por aqueles que, permanecendo vivos, procuram forças físicas e psicológicas para sobreviver.
Para além da oração, a Caritas promove uma recolha de fundos para o Haiti, através da conta “Cáritas Ajuda Haiti” – NIB 0035 0697 0063 0007 5305 3.
A Campanha, autorizada pela Secretaria-Geral do Ministéro da Administração Interna, contabiliza donativos no valor de 135.378,70€, valor a aplicar nas acções de emergência e reconstrução a favor das vítimas do sismo
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Cruz
(Silêncio).
Há qualquer coisa de insuportável nesta imagem. No meio dos escombros o fotógrafo enquadrou uma cruz intacta. Por entre as ruínas, vestígio da morte, da desgraça e do mal, um cruzeiro permaneceu “gloriosamente” incólume. Mas dessa aparência e “mensagem” vitoriosa absurda desprende-se uma outra verdade: esta cruz já era ali, antes do terramoto destruir a cidade, sinal da fragilidade e da ruína. Ainda erguida não é milagre – e que Deus ridículo deixaria morrer milhares de pessoas e salvaria uma representação? Ela é o que era: sinal profético e paradoxal da miséria e da sobrevivência. O eco de um Deus que se esvaziou de si mesmo, compassivo, e se fez igual a nós. Precário e mortal. Pobre entre os pobres. E que agora sofre ali com quem sofre. Uma ruína humana-e-divina entre ruínas. É o sofrimento enfrentado e vencido que estava já lá, antes deste que agora aconteceu. Não é um deus intacto, intocável, no seu pedestal afastado e separado da vida comum, mas o que desce ao reino dos mortos – ao nosso, que somos aqueles que vamos morrrer – e que anuncia que a morte não tem a última palavra. É o mestre que indica uma vida em abundância, da qual participamos e que permite que depois do terror a reconstrução recomece. Porque, como sabia Teresa de Ávila, “Tudo passa”.
Agora percebo porque me incomoda esta fotografia. Lembro-me de ter visto numa Igreja de Varsóvia o fragmento de uma escultura barroca, em bronze, de Cristo crucificado, que tinha sido destruída num borbadeamento durante a Segunda Guerra Mundial e que um artista recuperou e completou numa linguagem contemporânea sem apagar a memória do que sofreu. Um Cristo destruído e redivivo. Como a repetida história humana. E vou ser sincero: preferia que também esta cruz tivesse caído, porque é esse o movimento cristão mais autêntico: estar ao lado, ao mesmo nível, entre os homens, nas condições concretas da sua existência, lavando-lhes os pés. Neste caso, entre os despojos e as ruínas. Para aí ser sal e luz, renovação e esperança.
Mas do que ali aconteceu e se experimenta o que sei eu?
(Silêncio).
Paulo Vale