Dia da Mulher: Pequeno Rodrigo dá a mão a quem foge da violência doméstica

Centro Social e Paroquial de São Bento da Ribeira Brava acolhe vítimas

Ribeira Brava, Madeira, 08 mar 2018 (Ecclesia) – Uma história real serve de premissa para dar a conhecer o regulamento interno e integrar as mulheres que chegam ao Centro Social e Paroquial de São Bento da Ribeira Brava, na Madeira, fugindo da violência doméstica.

Uma casa abrigo a capacidade para acolher 20 vítimas, mulheres ou menores que necessitem de proteção social.

Magna Rodrigues é a diretora técnica e autora do livro que entendeu ser a “melhor forma de facilitar este processo e dar a perceber às crianças que não são os únicos” a viver esta situação, mas que é possível “dar a volta”.

O Rodrigo, figura principal da história, dá a mão a quem chega a este processo, que se adivinha difícil e doloroso. “No fundo representa todas as crianças que passaram aqui pela casa, a coragem que a família teve para sair de casa, deixar tudo e as inquietações que trazia; às vezes é muito difícil para as mães explicarem o que vai acontecer”, justificou, em declarações à Agência ECCLESIA.

A violência doméstica ainda é vista com “sentimentos de culpa e vergonha por parte das mulheres” e as vítimas chegam “num pânico muito grande, com baixa autoestima, dependência emocional e financeira e muita insegurança”.

É assim que Magna Rodrigues descreve como recebe as vítimas naquela casa onde trabalha há três anos e que existe desde 2006; por ali já passaram 158 mulheres e 201 crianças.

“Emocionam-me sempre as situações com as crianças, é complicado para uma criança, ou mesmo para um jovem, ter de sair de casa. Depois referem que o pai é agressor, mas há um laço afetivo, sentem pena e quando chegam cá perguntam: o que lhe vai acontecer? Será que se vai alimentar? E querem estar com ele”, conta a diretora técnica.

“Uma jovem mãe que vinha com dois filhos, um de 12 e outro de dois anos (fruto do relacionamento violento), apresentava violência física e psicológica. Os pais das crianças ameaçavam tirar-lhe as crianças e diziam que ela era uma má mãe. Ela tinha dúvidas se seria capaz de dar a volta. Tinha tido uma educação na base da violência, nesta casa aprendeu a pedir ajuda e cresceu. Hoje está bem na vida e é uma mulher independente”

 

Perspetivas de quem lida com esta realidade de violência todos os dias, onde “não há casos iguais”; o principal papel é o de “encontrar estratégias para ir de encontro aos interesses e ambições destas mulheres”.

Uma das principais estratégias é a elevação da autoestima e o autocuidado da imagem daquelas mulheres que se “esqueceram de si e descuidavam os acontecimentos”.

Esta valência tem ateliers de beleza e estética, de cozinha e pastelaria, de expressão plástica e de comemoração de datas aniversário e épocas festivas.

“É frequente ouvir que nas famílias não se comemoravam aniversários, nem delas nem dos filhos…depois, é comum ouvir-se que já preparou a festa do filho, até lhe fez um bolo”, refere.

Outra realidade que chega ali são mães agredidas pelos filhos, com certa idade e são maltratadas, “um choque”.

“Não se trata de uma nova realidade, mas nas situações em que é um filho a maltratar, é mais difícil a vítima denunciar, porque a mãe não quer que aconteça nada de mal ao filho”, explica a diretora técnica.

Sendo uma valência do Centro Social e Paroquial de São Bento da Ribeira Brava, no Funchal, o convívio com o lar de 3.ª idade é uma realidade que até já levou a descobertas de fé.

“Há mulheres que estavam tão envolvidas na situação de violência, que nem saíam de casa, não conviviam com ninguém… aqui na casa têm outra liberdade e vão à missa depois de muitos anos sem o conseguir fazer. E até há descobertas de fé, depois ao se mudarem para cá as crianças continuam a frequentar a catequese”, conta Magna Rodrigues.

Entre os casos de sucesso a diretora técnica desta casa recorda ainda o de uma mulher que ali chegou maltratada e que alimentava o sonho de tirar a carta de condução.

“Ainda aqui na casa, mas já a trabalhar, traçámos um plano de poupança e ela conseguiu tirar a carta; este é um dos aspetos que limitava a vida daquela vítima”, refere.

“Uma mãe de 79 anos, meio social baixo… violência física extrema por parte de um filho alcoólico, desempregado e que exigia dinheiro para tabaco e álcool; quando a mãe não lho dava, ele batia-lhe. Era do conhecimento do centro de saúde e da polícia de proximidade; foi difícil integrar esta idosa na casa, mas depois foi considerada uma avó para estas crianças. Posteriormente foi acolhida numa valência de lar; mas esta mãe não quis fazer a queixa-crime porque não queria prejudicar o filho”.

Há ainda muitas mulheres que, já na sua vida autónoma e estável, voltam àquela que, um dia foi a casa que as acolheu e consideram ainda como “uma família”.

“Por exemplo há esta jovem que nos vem visitar, mostrar os filhos e dar o feedback – manda mensagens – mas há várias que passaram por cá e ficaram com a família que nunca tiveram”, concluiu.

SN/OC

 

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