Francisco e Edith Bruck destacaram necessidade de transmitir «memória» das tragédias às novas gerações
Cidade do Vaticano, 27 jan 2022 (Ecclesia) – O Papa recebeu hoje no Vaticano Edith Bruck, escritora e sobrevivente de Auschwitz, com quem assinalou o ‘Dia da Memória’, evocando as vítimas do Holocausto durante a II Guerra Mundial (1939-1945).
“Os dois sublinharam, em particular, o valor inestimável da transmissão, aos mais jovens, da memória do passado, também nos seus aspetos mais dolorosos, para não voltar a cair nas mesmas tragédias”, indica um comunicado da Santa Sé.
A nota, enviada aos jornalistas, refere que “Francisco teve uma longa e afetuosa conversa, de cerca de uma hora, com a senhora Edith Bruck, pouco menos de um ano depois da sua visita à casa da escritora, em Roma”.
O encontro desta tarde decorreu na Casa de Santa Marta, onde o Papa reside.
Francisco tinha assinalado, esta quinta-feira, a celebração do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (27 de janeiro), falando numa “página negra” da história da humanidade.
Edith Bruck, de 90 anos, é uma mulher húngara naturalizada italiana; tinha 13 anos de idade quando foi deportada para Auschwitz e, depois, para outros seis campos de concentração, sendo libertada em 1945.
“Alguns fingiam não acreditar por interesse político ou bélico. Até os alemães disseram depois da guerra que não sabiam. Mas como eu os via todo os dias, eles também me viam”, disse ao portal de notícias do Vaticano, a respeito da celebração desta quinta-feira, instituída pela ONU.
A escritora lamenta o negacionismo do Holocausto e diz que “os homens não aprenderam com os seus erros”.
Bruck considerou uma “obscenidade” comparar a situação dos não-vacinados à dos judeus nos campos de concentração, como aconteceu em manifestações recentes contra as medidas de controlo da pandemia de Covid-19, alertando ainda para o ressurgimento de correntes adeptas do nazismo.
“O perigo avança em toda a Europa”, lamenta.
A entrevistada fala da experiência nos campos de concentração, sobre a qual escreve e faz palestras, em escolas.
Não houve tempo para falar, nem mesmo pela solidariedade. O que importava era apenas não perder a vida. Essa era a única urgência. Não sair fora da linha. Fazia um frio enlouquecedor, sentíamos uma fome que nos cegava. Não havia nada a dizer a não ser cuidar de si mesmo. Também era difícil pensar em amizade nos campos de concentração”.
Edith Bruck recordou o seu primeiro encontro com Francisco, em fevereiro de 2021, após o Papa ter lido uma entrevista que a escritora húngara concedeu ao jornal do Vaticano
“Outros Papas foram pedir perdão à Sinagoga, mas Francisco veio à minha casa e isso teve um grande eco”, disse, considerando que este “é o gesto mais bonito”.
O portal de notícias do Vaticano refere que Edith Bruck dedicou a sua vida a testemunhar o que viveu nos campos de concentração nazi, cumprindo um pedido que lhe foi dirigido em Bergen-Belsen: “Relata tudo! Não acreditarão em ti, mas se sobreviveres, conta, também por nós”.
OC