Dia da Igreja Diocesana de Lamego

Homilia de D. Jacinto Botelho Celebramos, neste Pontifical, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, no Domingo mais próximo do aniversário da Dedicação da nossa Catedral, em que a Cristandade de Lamego acorre a este lugar, para viver o Dia da Igreja Diocesana, muitos de vós tendo participado da parte da manhã nas reuniões por sectores. Providencialmente ocorre hoje também, dia 21 de Novembro, o 40º. Aniversário da aprovação e promulgação da Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, chave de toda a renovação conciliar, e expressão da origem e identidade da Igreja: dom, pelo “desígnio de salvação do Pai em favor dos homens”; mistério que “se concretiza pela encarnação, missão e obra do Filho”; missão que “tem o seu curso no envio do Espírito Santo, o qual torna possível o acesso de todos por Cristo ao Pai e a todos dinamiza para que dêem testemunho do amor de Deus. À luz desta doutrina, constituímos, aqui e agora, a Igreja particular de Lamego, unida ao Pastor e por ele congregada no Espírito Santo, pelo Evangelho e pela Eucaristia”, onde está “verdadeiramente presente e operante a Igreja una, santa, católica e apostólica de Cristo”. Somos deste modo, nesta «missa estacional» “a principal manifestação da Igreja” – recorda-no-lo João Paulo II, na Carta Apostólica para o Ano da Eucaristia, citando a Constituição conciliar sobre a Sagrada Liturgia. Encerramos o Ano litúrgico, como o começámos e como o deveríamos ter celebrado, Domingo as Domingo, a confessar a nossa fé no Senhor Ressuscitado; Filho muito amado do Pai, imagem de Deus invisível, primogénito de toda a criatura, cabeça da Igreja que é o Seu corpo, que em tudo tem o primeiro lugar, acima dos Tronos, Dominações, Principados e Potestades; verdadeiro Rei, como indicava o letreiro colocado, por sarcasmo, na cruz do Seu suplício, mas cujo poder é “a autoridade do amor e do serviço que requer o dom gratuito de si e o testemunho coerente da verdade”. Na Carta Pastoral que entreguei à Diocese na Quinta-Feira Santa de 2001, delineei o rumo de trabalho dos 10 anos que, se Deus o permitir, serviria esta Igreja de Lamego, como seu bispo. Iniciamos agora o novo ciclo voltado para a descoberta da Palavra de Deus. Esta reflexão foi já alvo de programas pastorais em anos anteriores, com iniciativas que movimentaram os cristãos de Lamego para o apreço e assídua procura da mensagem que a Sagrada Escritura nos oferece. É inesgotável a riqueza da Palavra de Deus, sempre viva, sempre nova, sempre original e surpreendente, quando com humildade e com fé dela nos abeiramos. Mas o próximo ano pastoral, por vontade expressa do Santo Padre, é também o Ano da Eucaristia. Vivê-lo-emos igualmente com todo o empenho e solicitude. Como sublinho na breve Carta que junto ao Plano Pastoral e que dirijo aos cristãos de Lamego, não quer o Santo Padre que se interrompam os itinerários pastorais programados nas diversas igrejas particulares, mas neles se dê relevo à dimensão eucarística que preside a toda a actividade da Igreja. Estão profundamente interligadas a Palavra e a Eucaristia. Aquela encaminha para a vivência do Mistério; esta abre o coração à compreensão da Mensagem. Como na caminhada de Emaús a Palavra e a Presença fizeram arder o coração dos dois discípulos, os quais, modificados nas disposições interiores que antes viviam, regressaram alvoroçados de alegria a Jerusalém, para que os apóstolos comungassem com eles o deslumbramento que não podiam silenciar, igualmente a Palavra, entendida com humildade, nos levará à Palavra feita Pão, e estimular-nos-á a testemunhar com vigor as nossas convicções, sejam quais forem as circunstâncias que tenhamos de enfrentar. É um exemplo elucidativo desta atitude, como o Evangelho relatou, a coragem do bom ladrão na correcção fraterna, sem inibições nem respeitos humanos, recriminando o companheiro de infortúnio, e lhe obteve a graça daquela belíssima oração – Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com a tua realeza – rezada no momento supremo da sua vida, a provocar, como um abraço de despedida, a resposta de Jesus com a certeza da bem-aventurança: Hoje estarás comigo no paraíso. Sugiro na Carta já referida, algumas orientações de ordem prática para o ano que vamos viver. Os esquemas elaborados pela equipa de reflexão serão um oportuno recurso para a valorização dos vários tempos litúrgicos, enriquecidos com as Sugestões e Propostas que a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos acaba de publicar. Gostaria que a celebração do Sagrado Lausperene no tempo da Quaresma e a próxima Solenidade do Corpo de Deus com a tradicional procissão, constituíssem tempos fortes do caminhar responsável e comunitário da Diocese. É pertinente a advertência de Sua Santidade. “Não peço, diz o Papa, que se façam coisas extraordinárias, mas que todas as iniciativas sejam marcadas por uma profunda interioridade”. E continua: “Ainda que o seu fruto fosse apenas reavivar em todas as comunidades cristãs a celebração da Missa dominical e incrementar a adoração eucarística fora da Missa, este ano de graça teria conseguido um resultado significativo. Mas é bom apostar alto, não nos contentando com medidas medíocres, pois sabemos que podemos contar sempre com a ajuda de Deus”. O Santo Padre compromete-nos a todos, bispos, sacerdotes, diáconos, pessoas instituídas nos ministérios, religiosos, seminaristas, simples fiéis. Seja-me permitido, porém, que, secundando a mobilização geral de João Paulo II, deixe um apelo muito esperançado aos jovens de Lamego. Portugal é muito brevemente protagonista dum acontecimento que nunca viveu e tão cedo não voltará a repetir-se aqui: a peregrinação de confiança da comunidade de Taizé, no fim deste ano, de 28 de Dezembro a 1 de Janeiro. Estás na disposição de fazer a experiência? Então contacta os serviços diocesanos da pastoral da juventude e inscreve-te. Não terás outra oportunidade na vida. O esquema da oração daqueles dias é muito simples: fundamentalmente a recitação de salmos, a leitura da Bíblia, silêncio, cânticos de louvor e aclamações. A comunidade de Taizé explica: “A voz de Deus não se cala, mas Deus nunca se quer impor. Frequentemente, a sua voz escuta-se como um murmúrio, num sopro de silêncio. Permanecer em silêncio na Sua presença, para acolher o Espírito, é já uma forma de rezar”. Quem dera que a nossa Igreja diocesana, neste Ano da Eucaristia e à procura da Palavra de Deus, se aproximasse desta espiritualidade. Que a Virgem Maria, no ano e próximos do dia em que comemoramos os 150 anos da proclamação dogmática da Sua Conceição Imaculada, dócil à voz do Espírito, Mulher do silêncio e da escuta e Mulher Eucarística, o primeiro «sacrário» da história, acompanhe e proteja o peregrinar desta Diocese para que, responsavelmente iluminada pela Palavra e alimentada pela Eucaristia, cresça na fé, na comunhão e no testemunho. Ámen.

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