A Cáritas Portuguesa assinala este Domingo, 15 de Março, o seu dia nacional, num contexto socioeconómico marcado pelo espectro da crise e as crescentes dificuldades para famílias e empresas. Esta iniciativa quer colocar no centro das celebrações e debates as actividades sociais dinamizadas por este serviço da Igreja Católica. Sede das comemorações nacionais é Lamego, onde D. Jacinto Botelho presidirá a uma Missa, pelas 1h00 deste Domingo, na Catedral local (transmissão pela Rádio Renascença). A Conferência Episcopal Portuguesa decidiu que as colectas efectuadas nos ofertórios das eucaristias do III Domingo da Quaresma se destinem às Cáritas de cada Diocese, para que possam cumprir a sua missão social e caritativa. A estas têm chegado quadros novos de pobreza, protagonizados por pessoas que até há pouco tempo estavam empregadas e tinham hábitos de consumo elevados. Eugénio Fonseca explica que estes casos são cada vez mais numerosos: “Este é o grande desafio. Estou convencido que esta crise apresenta um lado de esperança. Inclusive para a organização interna da acção social da Igreja, a crise pode ser uma oportunidade”. O Presidente da Cáritas portuguesa explica que se organizavam acções para atender a situações de pobreza sistémicas, “que passam de geração em geração. Estão a vir ao nosso encontro, pessoas que estão em situação de privação de bens, e que pedem que a instituição as ajude a delinear projectos de vida. Este é um grande desafio para os nossos grupos. Um desafio de requalificação, pois obriga a um olhar diferente, uma postura diferente, e quer evitar o facilitismo das respostas assistencialistas”. O Dia Nacional da Cáritas assume, segundo Eugénio Fonseca, uma urgência específica concretizada em dois objectivos – “a consciencialização de que a resolução da crise não passa apenas por revitalizar a economia, pois a crise tem contornos que ultrapassam as fronteiras económicas e financeiras e toca a civilização. Neste campo, a Igreja, através do seu pensamento e das suas instituições sociais, deve tornar esse pensamento mais próximo dos cidadãos”. Eugénio Fonseca sublinha ao programa ECCLESIA, a responsabilização, “individual e colectiva, de cada cidadão e, em particular, dos cristãos”, pois “a crise não vai ser superada se apenas contarmos com as decisões dos governos”. O presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social, D. Carlos Azevedo, que falou recentemente no risco de “implosão social” no nosso país, considera que o agravamento da crise pode ter consequências imprevisíveis. Em declarações ao Programa ECCLESIA, este responsável alerta para o surgimento do “desespero” nas populações, “quando o emprego vai sendo perdido – e sabemos que ainda vamos no princípio da crise – quando não tiverem com quê viver, como pagar a casa e ter de a entregar”. Neste contexto, o Bispo Auxiliar de Lisboa defende a urgência de se apresentar “uma palavra de esperança”, que abra “perspectivas” às pessoas que se encontram em “situações graves”. Impõem-se, por isso, respostas qualificadas no exercício da solidariedade. “Hoje é fundamental que as soluções não sejam meramente assistencialistas”, diz D. Carlos Azevedo, apelando à “ajuda de muitas pessoas”. Este ano, a Cáritas celebra o seu Dia em volta do lema “Se não tiver caridade, nada sou”, inspirada na I Carta de São Paulo aos Coríntios. Este responsável considera que, para os cristãos, a caridade é algo que “implica a vida toda”. “Não é apenas uma dimensão de algumas horas, de algum tempo, de algum dinheiro, a caridade implica a totalidade do nosso ser e implica-nos a todos”, aponta, defendendo que essa marca deve estar presente em todas as comunidades. D. Manuel Felício, Bispo da Guarda, assinalou com uma mensagem a celebração do Dia da Caritas, frisando que “cada vez é mais evidente a necessidade de grupos de acção social paroquiais ou inter-paroquiais, que estejam próximos das realidades”, com a preocupação de estarem atentos “sobretudo às novas necessidades que vão surgindo”. “O que se pretende é conhecer bem as pessoas envolvidas em situações de pobreza para dar a resposta adaptada a cada caso. A actual crise que a todos nos está a afectar gera, de facto, situações novas de pobreza, que precisamos de conhecer bem para lhes dar a resposta conveniente”, indica. Este responsável sublinha que “a caridade tem de ser o rosto visível de todas e cada uma das nossas comunidades cristãs e a instituição Caritas é o instrumento ao seu dispor para o cumprimento organizado desta responsabilidade”. Notícias relacionadas • Cáritas