Despertar Espiritual e Carismático

Congresso “Sinais do Espírito no Século XX” “O Santo Padre deseja unir a sua voz para exaltar as grandes obras realizadas pelo Espírito de Deus no século que há pouco terminou”. O Papa quis assim expressar o seu apoio à iniciativa do Movimento eclesial italiano “Renovamento do Espírito”; realçar os “sinais do Espírito no século XX” apontando para “uma releitura histórica”, sobretudo através da “narração de testemunhos”. Foi este o objectivo do congresso internacional realizado de 30 de Setembro a 2 de Outubro em Lucca, na Itália. O Papa quis encorajar os promotores do Congresso, bem como a Comunidade de Santo Egídio e o Movimento dos Focolares, que colaboraram, para que – tinha afirmado – esta iniciativa “sirva para resgatar a memória espiritual do século que terminou constelado de tristes páginas de história, mas também cheio de testemunhos maravilhosos de um despertar espiritual e carismático em todos os âmbitos, quer civis quer na acção espiritual”. “Nós, homens e mulheres que vivemos entre os dois milénios – tinha dito Salvatore Martinez na introdução ao Congresso – não podemos saudar o futuro do novo século sem encontrar na recordação do nosso passado uma inspiração, exemplos e obras, suscitadas pelo Espírito Santo, precisamente porque é Ele o fundador de um novo humanismo”. “Eis que faço uma coisa nova, está a germinar, não vos dais conta?”. Referindo-se à actualidade destas palavras do salmista, D. Stanislao Rylko, Presidente do Conselho Pontifício para os Leigos tinha afirmado que é importante ter os olhos abertos para ver as coisas novas que germinam também nos nossos dias, também mesmo ao nosso lado, em pessoas e lugares que nunca teríamos imaginado”. Uma resposta à crise espiritual iniciada na Europa nos alvores do século XX e que ainda dura, como afirmou na sua intervenção, o presidente do Senado Marcello Pera? É necessário saber sintonizar-se com este panorama inédito. O “como” foi sugerido pelo rico património da Europa oriental que dá relevo à dimensão contemplativa, como fonte de consciência, sobre o qual falou o cardeal Spidlik. Inspirando-se na oração, o prof. Andrea Riccardi esboçou a trama da acção do Espírito no século XX, o século mais violento e secularizado da história, procurando interceptar as correntes profundas que o atravessaram. Abriu assim novas pistas de investigação: partindo do drama da guerra, o Espírito suscita uma nova consciência de paz, impulsiona novo processo de unidade dos cristãos, para uma consciência de que – como dizia o Patriarca Atenágoras –“se as Igrejas se tornarem irmãs, os povos serão irmãos”. Temos o modelo de transformação pacífica do Leste Europeu, ainda por aprofundar. E o mesmo se diga da unificação do velho continente. Isto só para citar alguns exemplos. Um contributo importante para a realização desta trama foi a tão esperada voz dos muitos testemunhos. O testemunho de uma força espiritual que emergia das situações históricas mais dramáticas, foi a dos sobreviventes dos gulag, da explosão nuclear de Hiroshima, do testemunho da solidariedade entre judeus e cristãos do rabino da Eslováquia, Jossi Steiner, desterrado nos campos de concentração. Neste século XX que tinha tentado eliminar Deus da vida social, com o florescimento de novos carismas, que suscitou novas famílias religiosas, movimentos e comunidades, torna-se “partilhada a experiência de Deus entre os homens”, como evidenciou o teólogo Piero Coda. Da experiência directa dos fundadores emergiu com transparência a acção do Espírito que floresce nas horas mais escuras deste século. Precisamente no meio do segundo conflito mundial, a luz de Deus, experimentado como Amor, foi a centelha inspiradora de onde nasceu e se difundiu um movimento mundial, os Focolares, que se empenhou em levar paz e unidade, como testemunhou Valeria Ronchetti, uma das primeiras companheiras de Chiara Lubich. São as feridas da guerra que suscitam no irmão Roger Schutz, como testemunha o irmão John, um dos seus primeiros companheiros, a sede de reconciliação entre cristãos, que comunicará a centenas de milhares de jovens. Assim como do dramático tempo da perseguição violenta dos cristãos no México nasce a obra de difusão do Reino de Deus, dos Legionários de Cristo. E nos Estados Unidos, da insistente oração de um grupo de jovens estudantes, inicia-se o grande movimento carismático que teve uma grande difusão no mundo. Testemunha-o um dos protagonistas, Patti Gallagher Mansfield. São impressionantes as recordações dos secretários dos últimos Papas que comunicaram trechos inéditos das suas vidas, como o de D. Loris Capovilla que fez reviver os momentos fortes da inspiração do Espírito no anúncio e abertura do Concílio, evento que – como evidenciaram alguns – marcou um novo Pentecostes. Os grandes Papas, a obra carismática dos movimentos, Madre Teresa de Calcutá, Padre Pio, as luzes indicadas aos congressistas pelo cardeal Crescenzo Sepe, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, tendo o cardeal falado também da chaga da máfia siciliana. Também o cardeal Salvatore Pappalardo, arcebispo emérito de Palermo, falou das chagas das máfias, às da deficiência mental das regiões mais deprimidas da África e da América Latina. Forte o testemunho da fantasia do Espírito que suscitou novas iniciativas: no campo económico, como a Economia de Comunhão, obras de resgate social e espiritual através de quem teve a coragem de seguir a Sua voz, como testemunharam Luigi Ferlauto, fundador de “Oásis-cidade aberta”, Enna da Sicília, o salesiano Ugo De Censi que deu início à Operação Mato Grosso e o padre Pedro Opeka, em Madagáscar. Não foi por acaso que o Congresso se realizou em Lucca: a escolha foi uma homenagem a Elena Guerra, a beata originária de Lucca que, junto do Papa Leão XIII apoiou a consagração do século XX ao Espírito Santo, e fundou as Oblatas do Espírito Santo que se uniram ao Renovamento Carismático para promover esta iniciativa. O Congresso de Lucca reforçou a consciência de que “o Espírito Santo está presente na história dos nossos dias e abre sempre novos horizontes na vida dos indivíduos e dos povos”, como afirmou Salvatore Martinez lendo a declaração final. Agora o empenho está em difundir nos vários ambientes a cultura do Pentecostes, por ele definida como “o antídoto ao mal obscuro do mundo”. O lema foi: “Do cenáculo universal, vivido durante estes dias, até à praça”. O encontro de Lucca foi também uma expressão daquela comunhão entre Movimentos nascida no grande encontro com o Papa João Paulo II no Pentecostes ’98, agora projectada para o encontro com o Papa Bento XVI do Pentecostes 2006.

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