Desertificação é problema de todos

Victor Louro, presidente da Comissão Nacional de Coordenação do Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação Victor Louro, presidente da Comissão Nacional de Coordenação do Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação (PANCD) fala à Agência ECCLESIA da necessidade de sensibilizar as populações para o complexo de processos ligados a esta problemática, deixando votos que o Ano Internacional dos Desertos e Desertificação seja a grande oportunidade da tomada de consciência e da mobilização para a acção. Agência ECCLESIA – O problema da desertificação já preocupa os portugueses? Victor Louro – Eu penso que algumas pessoas já estão alertadas para o problema, mas a maior parte da população considera-o ainda como algo distante. AE – De que se fala, afinal, quando abordamos a problemática da desertificação em Portugal? VL – Depois do trabalho que temos desenvolvido, posso dizer que a ideia mais forte que existe entre as pessoas, em Portugal, tem a ver com a desertificação humana, o despovoamento. A ideia dos desertos, em si, fica lá para o fim, embora com os exageros que muitas vezes são propalados, haja quem se pergunte se corremos o risco de o deserto invadir o país. Julgo que isso é uma possibilidade absolutamente remota, porque não temos as condições climáticas que proporcionem isso: o nosso clima vai até ao sub-húmido seco; ora, os desertor ocorrem em climas áridos. AE – Em Portugal há expressões claras da desertificação, como a erosão, os incêndios florestais, o despovoamento e o agravamento dos efeitos das secas… VL – Temos de ter atenção, de facto, para a degradação dos solos e dos recursos hídricos que lhe estão associados, bem como os da fauna e da flora. Falamos, por isso, fundamentalmente de degradação da terra, com o solo e os seus recursos, com as paisagens e com as gentes. Assim estamos a traduzir correctamente esta problemática para o nosso país. Os incêndios dos últimos anos agravam as condições para a degradação do solo. AE – Como se sensibiliza a sociedade civil para estes problemas? VL – Há, de facto, uma imensidão de possibilidades e esse é o grande desafio que a da Comissão Nacional assumiu para este Ano Internacional, em consonância com as Nações Unidas. Queremos chegar ao maior número de públicos, o que implica utilizar meios muito diversos e linguagens variadas. AE – Nesse processo, que papel podem ter as instituições da Igreja? VL – Nós apostamos na proximidade que têm com as populações, muito mais do que as instituições do Estado, que têm uma capacidade reduzida de chegar ao público. As organizações da sociedade civil e a Igreja têm uma vocação reconhecida de intervenção social e, efectivamente, há que tocar as pessoas para a grandeza deste problema e para a necessidade de actuar solidariamente no combate às más condições de vida e o distanciamento da pessoa humana. É por essa via que queremos chegar ao mais fundo de cada um, para combater este flagelo. Se todas estas questões são verdade para Portugal, ainda mais o são se pensarmos em regiões como a África, a América Latina ou a Ásia, onde falar de pobreza nos leva aos extremos. AE – O PANCD traça como grandes objectivos, entre outros, a conservação do solo e da água, bem como a fixação da população activa nos meios rurais. São objectivos concretizáveis? VL – Todos nós temos a noção de que estamos numa caminhada, um processo longo. É preciso, contudo, iniciar a caminhada para progredir; se conseguirmos – e estamos a conseguir – que haja uma mudança qualitativa no reconhecimento da existência do problema, isso facilitará não só a vida das populações afectadas, como a predisposição dos decisores para toda a problemática.

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