Desenhar com arte a sociedade integrada

XXXIII Semana Nacional das Migrações Um dos maiores desafios que o fenómeno das migrações lança à sociedade é o acolhimento pacífico e “civilizacional” da tensão, que o acto humano de dialogar exige. De modo especial, o diálogo entre diferentes a viver no mesmo espaço e tempo: homens e mulheres, povos e pessoas, religiões e igrejas, autóctones e estrangeiros, laicos e religiosos. Passar, com atitude de peregrino, da fase multicultural(em que Portugal se encontra, de forma muito latente) à bem-aventurada etapa da “intercultura”, é um itinerário de reciprocidade que fecunda, mais do que “ideias”, “experiências de vida” significativas que só o tempo-tecelão, pacientemente, saberá entrelaçar no tear. A interculturalidade é a própria acção de relação, não o fruto! O coração a acolher, não a mente a julgar. “É a integração genuína, não a assimilação ou marginalização”, como referiu o saudoso João Paulo II, na mensagem para a Jornada do Migrante 2005, sem a mínima cumplicidade com as actuais formas de “apartheid”. O diálogo intercultural é a partilha consciente e ousadamente activa do que se é e tem, ao descobrir o âmago da relação; não apenas a tolerância baseada numa “laica” indiferença, incomunicável. Mesmo se educada, favorece somente monólogos discriminantes e perigosamente nacionalistas. O outro é um “segredo” oculto, incarnado numa cultura, música, língua e religião ao qual me devo abrir, para que eu, ele e todos o possamos viver, no dom da palavra, do silêncio e do sorriso, em diálogo livre e democrático. Na acelerada globalização do planeta Terra, escasseiam intérpretes qualificados, capazes de traduzir em linguagem simples e humana a copiosa diversidade em interacção quotidiana, sem que entrem em derradeiro conflito fatal. A Igreja – povo de irmãos – é chamada, em força da sua natureza “católica” e “reconciliadora”, a testemunhar com a “caridade criativa”, do Espírito, o pluralismo cultural, linguístico e religioso, obra do próprio Deus. Na semana original narrada no “Génesis”, Deus cria deliberadamente a diferença: entre homem e mulher, entre o humano e o mal, entre Ele e todas as dimensões da criação. E, viu que tudo era bom! Só na procura de equilíbrio entre as várias legitimidades e a “interacção” dos valores universais na vida, se pode acreditar e construir uma sociedade integrada aqui e agora – purificando as culturas e religiões de tudo o que não dignifica, nem liberta o homem. Rui M. da Silva Pedro, OCPM

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top