Bento XVI quis encontrar-se com as Organizações da Pastoral Social. Com este gesto, o Sucessor de Pedro reafirmou a centralidade da acção social e caritativa na missão evangelizadora da Igreja.
Decorreu este encontro no contexto de uma Celebração da Palavra, para, decerto, indicar que «Neste mundo dividido, impõe-se a todos uma profunda e autêntica unidade de coração, de espírito e de acção». Porque, «não é fácil conseguir uma síntese satisfatória da vida espiritual com a acção apostólica», chamou à atenção para os riscos que os projectos caritativos correrão de perder a sua identidade, ou seja, «de esvaziá-los da motivação da fé e da esperança cristã que os tinha suscitado» se não estiverem enraizados na Sagrada Escritura e animados pela oração. O Papa revelou ser esta uma das suas maiores preocupações ao afirmar a necessidade de que sejam claras as orientações sócio – pastorais «de modo a assumirem uma identidade bem patente: na inspiração dos seus objectivos, na escolha dos seus recursos humanos, nos métodos de actuação, na qualidade dos seus serviços, na gestão séria e eficaz dos meios».
Foi a partir da parábola do Bom Sama-ritano e apoiado nas suas três Cartas Encíclicas, que o Papa deixou incon-tornáveis desafios aos agentes sócio-eclesiais, centrados na identidade, na autonomia e na independência face à «pressão exercida pela cultura dominante».
Pediu que a acção social da Igreja – a pastoral social – não se confine a meras recomendações nem fique no plano das boas intenções, mas desafiou-nos, a nós, os agentes, para nos esforçarmos em «dar respostas concretas e generosas» e, seguindo o exemplo de Jesus, estarmos «prontos a ajudar e a oferecer os meios de salvação a todos». Meios que, sem menosprezar as competências técnicas, devem ter como qualidade fundamental o «amor incondicionado», que significa o «amor entregue gratuita e generosamente, através da justiça e da caridade, para vivermos com um coração de bom samaritano». E o “coração de bom samaritano” é aquele que «vê onde há necessidade de amor e actua em consequência» (Bento XVI, Enc. Deus caritas est, 31). Amor que não exclui ninguém, mas que age na «certeza d’Ele que a estrada da caridade está aberta a todos os homens».
Evidenciou a «proposta criativa da mensagem social da Igreja» que se torna mais premente no tempo presente, marcado por uma grave crise socioeconómica, cultural e espiritual. Enfatizou a importância do estudo da Doutrina Social da Igreja (DSI) como um dos meios mais adequado à criação das condições favoráveis para uma maior abertura aos novos problemas e soluções. Deixou claro, porém, que estudar a DSI não «se trata de puro conhecimento intelectual, mas de uma sabedoria que dê sabor e tempero, ofereça criatividade às vias cognoscitivas e operativas». Relacionado com este desafio, foi muito oportuno ter-nos recordado uma das conclusões da nossa última Semana Social que referiu a necessidade de «formar uma nova geração de líderes servidores», acrescentando que a «atracção de novos agentes leigos para este campo pastoral merecerá certamente especial cuidado dos pastores, atentos ao futuro». Penso que este é um dos desafios que, se não for assumido com determinação, comprometerá o futuro da acção social da Igreja.
O que designamos por “trabalho em rede” ou “partenariado” também foi lembrado por Bento XVI ao pedir que “as instituições da Igreja, unidas a todas as organizações não eclesiais, melhorem as suas capacidades de conhecimento e orientações para uma nova e grandiosa dinâmica que conduza para aquela civilização do amor, cuja semente Deus colocou em todo o povo e cultura”. Nesta união de esforços não ignorou a necessidade de «cooperação com organismos do Estado para atingir fins comuns», mas salvaguardando o respeito incondicional pelos princípios da identidade e da autonomia.
Para que seja coerente o extraordinário acolhimento que fizemos ao Papa é indispensável que aceitemos os desafios que nos lançou e nos disponhamos a ser os bons samaritanos e a fazer da Igreja a estalagem onde os feridos de hoje encontrem sempre acolhimento.
Eugénio Fonseca
Presidente Cáritas Portuguesa