Democracia em causa na Guiné Bissau

Na Carta Quaresmal que tornaram pública na missa de Quarta-feira de Cinzas, no dia 5 de Março, D. José Camenate, Bispo de Bissau e D. Carlos Zilli, Bispo de Bafatá, manifestam a sua preocupação com a sobrevivência da democracia e da paz no actual contexto. Da defesa da estabilidade democrática, à condenação das prisões arbitrárias, passando pelo silenciamento da comunicação social e a degradação da situação social, a carta mostra-se implacável para com os governantes do país. Aos católicos, em particular, lançam alguns apelos: “É necessário que todos estejam atentos aos reais problemas das pessoas, evitar o esbanjamento do dinheiro público e eliminar a corrupção.” A Carta diz que a situação no país se tornou mais grave nos últimos tempos, com especial relevo para alguns acontecimentos que podem pôr em risco as eleições e o próprio futuro democrático do país. Entre os motivos de preocupação expressos pelos dois Bispos guineenses estão as prisões arbitrárias, o silenciamento da Rádio Bombolom, as ameaças e intimidações e o clima de medo entre a população, bem como “o tom agressivo e desrespeitoso de algumas acusações”, em que os protagonistas recorrem a “argumentos de infelicidade extrema” com o “objectivo de ofender os adversários”. É um manifesto duro que sintetiza a realidade que hoje caracteriza a Guiné-Bissau. Os Bispos realizaram esta intervenção pública cinco meses depois de uma outra em que afirmaram “se os irmãos não se entenderem, os abutres vão tomar conta do país”. Já nessa altura , D. José Camenate e D. Carlos Zilli acusavam os actuais governantes de serem os responsáveis pela crise que o país e a população enfrentam em todas as áreas. A igreja da Guiné-Bissau tem tentado desenvolver um papel conciliador no meio das inúmeras convulsões por que tem passado este país. A imagem do falecido Bispo D. Settimio Ferrazzetta enterrado na lama até aos joelhos num exercício de conciliação entre Nino Vieira e a Junta Militar, há três anos, correu o mundo e é um exemplo deste esforço da Igreja guineense. Com uma população de quase 1 milhão e 400 mil pessoas, a Guiné-Bissau é um dos dez países mais pobres do mundo. Os cristãos representam perto de 15% da população.

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