Deixar-se dizer pela Palavra para vivê-la e anunciá-la aos outros

XXXII Semana Bíblica Nacional

A XXXII Semana Bíblica Nacional decorreu em Fátima, de 23 a 28 de Agosto, com a participação de mais de 300 pessoas e a colaboração de 13 conferencistas, três dos quais, bispos. Organizada pelo Movimento de Dinamização Bíblica, dos franciscanos capuchinhos, contou com a colaboração dos seus vários secretariados regionais e uma equipa de Liturgia.

A intenção era aproveitar a dinâmica atingida no Ano Paulino e secundar os apelos do último Sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. De facto, muita gente descobriu as Cartas de Paulo e os Actos dos Apóstolos, ficando desperta para a Bíblia; mas a maioria não acompanhou o Sínodo, que pretendeu «sobretudo renovar a fé da Igreja na Palavra de Deus» (55ª Proposição). Por isso, os temas desta Semana foram organizados a partir das quatro palavras-chave da Mensagem do Sínodo ao Povo de Deus: a VOZ da Palavra (a Revelação), o ROSTO da Palavra (Jesus Cristo), a CASA da Palavra (a Igreja) e os CAMINHOS da Palavra (a Missão).

 A VOZ. D. António Couto, bispo auxiliar de Braga, disse “Como falou Deus e fala hoje ao seu povo”: com «uma voz que atravessa o coração», que fala «em», por dentro, e não tanto «por», sendo necessário manter um contacto íntimo com as Escrituras mediante a leitura sagrada e o estudo apurado; a «voz de um fino silêncio», como a que o profeta Elias sentiu na brisa, que é preciso saber «escutar», pois só podemos exprimir bem o que em nós deixarmos imprimir. Escutar é deixar-se dizer pela Palavra. D. António Taipa, bispo auxiliar do Porto, falou da sua vivência do “Sínodo visto por dentro”, como «uma profunda experiência de Igreja e uma forte experiência de fé». Sublinhando que «a Palavra de Deus não está prisioneira da Escritura», falou da «contemplação da Palavra de Deus na criação, na história e nas pessoas»; do apelo ao serviço da Palavra na homilia, na catequese, no primeiro anúncio; e da celebração da Palavra na Leitura orante (Lectio divina e Revisão de vida) e na Eucaristia.

 O ROSTO. O capuchinho frei Fernando Gustavo salientou que, como em qualquer relação, também na Bíblia há dois que se procuram; mas, «a nossa simples possibilidade de encontro com o rosto da Palavra (Cristo), terá sempre de passar pela nossa disponibilidade para o encontro com todos os outros». Dentro destes critérios, leu alguns textos do Antigo e do Novo Testamento, como a Aliança, as tentações de Jesus, a multiplicação ou “divisão” dos pães e os discípulos de Emaús. D. Carlos Moreira Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e especialista em História da Igreja, apresentou os principais “Teólogos que marcaram a história da Bíblia”, permitindo ver como a Palavra de Deus foi sendo abordada num sentido mais espiritual, pastoral, literal ou sapiencial; como foi secundarizada na longa época escolástica, e o seu processo de renovação com o movimento bíblico, o grande impulso ao estudo da Bíblia com a teologia protestante, e o pós-Concílio Vaticano II que definiu a Bíblia como «alma da teologia e da vida pastoral».

 A CASA. O P. Carlos de Aquino, liturgista da diocese do Algarve, falou da “Liturgia, o Iugar privilegiado da Palavra de Deus”. Para entender o valor e a pertinência do tema, bastaria citar a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, do Vaticano II: «Na celebração da Liturgia a importância da Sagrada Escritura é muito grande. De facto, dela se tomam as Leituras, que se explicitam na homilia, os salmos que se cantam; da sua inspiração e sob o seu impulso nascem as preces, orações e hinos litúrgicos; e dela, acções e sinais recebem o seu significado.» A comprová-lo, o biblista franciscano frei João Lourenço falou de “S. Francisco de Assis e a Palavra de Deus hoje”. De facto, a principal fonte de Francisco em relação à Bíblia foi a escuta da Palavra na Eucaristia, depois reflectida em privado; e de tal modo ele foi transformado pelo Deus da Palavra, que escreveu uma Regra para os «Irmãos Menores», aprovada pelo Papa, propondo-se «viver segundo o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo». E assim «restaurou» a Casa da Igreja.

 OS CAMINHOS. O frei Herculano Alves falou da “Palavra de Deus, animação de toda a Pastoral”. A este capuchinho doutorado em Sagrada Escritura, com largos anos de ensino universitário e um intenso trabalho pastoral de formação e animação em paróquias, grupos e congregações religiosas, pediu-se que apontasse caminhos de passagem da palavra da Bíblia para a Missão da Igreja. E fê-lo de modo frontal, não poupando a assembleia a um certo desconforto. Bastou apresentar a boa doutrina dos documentos da Igreja sobre a Bíblia, para se concluir da incongruência entre a teoria e a prática e um excessivo acento posto no culto em detrimento da evangelização, com nocivos efeitos à vista. Daí nasceram várias sugestões, a fim de se passar de uma pastoral bíblica à animação bíblica de toda a pastoral, como pediu o Sínodo. A exposição foi complementada, de tarde, por um painel sobre “Como levar a Bíblia ao Povo de Deus, hoje?”, moderado por frei Acácio Sanches, com três propostas concretas: a Escola Bíblica (Palmira Reis, Aveiro), os Grupos Bíblicos (Luísa Maria Abreu, Coimbra) e a Lectio divina (frei Lopes Morgado, Fátima), seguindo-se uma celebração da Lectio divina com toda a assembleia.

 CONCLUSÃO. A Semana concluiu com mais uma reflexão sobre “Maria, modelo de acolhimento da Palavra para o crente”, por Isabel Varandas. Seguindo-se a Eucaristia de Encerramento presidida por D. Serafim Ferreira e Silva, bispo emérito de Leiria-Fátima, que, em nome dos seus colegas no episcopado, agradeceu a todos o interesse manifestado pela Palavra de Deus.

As carências e disponibilidades das pessoas, e os apelos deste Sínodo, sugerem esta proposta pastoral urgente no nosso país: uma Bíblia em cada Família, que faça dela “pão” de cada dia e uma “refeição” semanal; um grupo de Lectio divina em cada paróquia, que junte os grupos bíblicos existentes e outros agentes de evangelização, com celebração semanal das Leituras do Domingo; uma Escola Bíblica ou Escola da Palavra” mensal em cada vigararia, para formação de catequistas, ministros da Palavra e membros dos grupos bíblicos; e um Secretariado Bíblico diocesano ou regional que coordene e apoie toda esta acção pastoral.

 

Lopes Morgado

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