Dar Sangue, dar Vida

Mons. Vítor Feytor Pinto, coordenador nacional da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde

 

Em janeiro passado, foi feito um apelo à dádiva de sangue, dado o perigo eminente das reservas de sangue entrarem em rutura nos hospitais. Este grito de alerta foi aceite, com a solidariedade de que os portugueses têm dado tantas provas. Bastaram dois fins de semana para repor os stocks essenciais e garantir a assistência aos doentes, que precisavam de transfusões sanguíneas. Foi um sinal da grande generosidade das pessoas que, nos casos mais difíceis, se propõem servir o “bem comum”.
1. O sangue, no exercício da medicina de hoje, é da maior importância. Sabemos que a arte médica está sempre ao serviço da vida e que o recurso ao sangue, com transfusões programadas e executadas no tempo próprio, permite salvar inúmeras vidas em risco. Há muitas doenças que exigem a transfusão de sangue. Por vezes, em cirurgias mais difíceis, a transfusão torna-se processo clínico indispensável durante a intervenção. Em situações de anemia grave, a utilização do sangue, com todas as suas componentes, é insubstituível para a estabilização do doente. É então indiscutível a importância do sangue no exercício da medicina, sobretudo nos casos mais difíceis.
2. A colheita de sangue tem sido uma expressão extraordinária de solidariedade e de intervenção social, sobretudo tendo em conta que é absolutamente gratuita. A gratuidade é mesmo o sinal maior desta solidariedade social. No entanto, por razões várias, tem vindo a escassear o sangue, nas unidades de saúde. A razão é fácil de encontrar. Há muitos dadores que atingem os 65 anos e não podem continuar a dar sangue. Nalgumas zonas do país, tem-se notado o cansaço de alguns dadores, uma vez que é a estes que se recorre mais vezes, sobretudo em casos de emergência. Também aumentou o número de casos clínicos que requerem a transfusão, para maior eficácia. Acontece ainda que uns tantos dadores esperavam tirar alguma vantagem pelo facto de se disporem a dar. É o caso de quem desejaria ter acesso mais fácil a cuidados de saúde, ou a isenção maior nas taxas moderadoras. Nestes contrariar-se-ia a gratuidade da dádiva. Há ainda as situações em que é difícil encontrar dadores, com tipos de sangue mais raros, para especiais grupos de doentes. Uma última causa da não dádiva pode ser a menor informação sobre as características de alguns componentes do sangue, como o plasma, não se compreendendo a sua perda. Todas estas são razões pelas quais as unidades de sangue podem escassear nos hospitais. Acresce ainda a dificuldade em encontrar novos dadores.
3. Porque o sangue é essencial à vida de muitos doentes, com situações clínicas difíceis, a Pastoral da Saúde não pode estar indiferente perante a importância da dádiva de sangue. Dar sangue tem também valor espiritual, expressão da caridade ao serviço da vida. Daí ser de grande significado que as comunidades cristãs se organizem na colheita de sangue, para a salvação dos doentes.
Esta preocupação motivou a nota da Conferência Episcopal Portuguesa que diz: “Tendo em conta a falta de sangue que se tem verificado nos hospitais, os Bispos de Portugal exortam a que os potenciais doadores exercitem este grande ato de generosidade, recorrendo a um centro de sangue do hospital da sua zona. De algum modo, dar sangue é oferecer a própria vida, um magnífico gesto de altruísmo e fraternidade solidária.”
4. Para responder a este extraordinário desafio, há vários caminhos. A Pastoral da Saúde quer propor e apoiar quatro:
A dádiva espontânea: qualquer pessoa pode dirigir-se ao hospital da sua zona para, ali, lhe ser feita a colheita de sangue. Pode fazê-lo por razões de solidariedade, mas também como expressão de fé, de reconciliação, de partilha de vida.
A dádiva em situações de emergência: poderiam assinalar-se algumas comunidades cristãs a que os serviços de saúde poderiam recorrer em casos de excecional perigo de rutura.
A dádiva em períodos do ano em que é mais frequente a falta de unidades de sangue: em janeiro e fevereiro, pico do inverno, e no período do verão, julho e agosto. Para estas duas épocas poderiam reservar-se zonas do país onde as unidades de sangue são mais necessárias. É o curto prazo.
A dádiva ao longo do ano: conseguir programar, a partir da Pastoral da Saúde nas regiões, a forma de haver dadores disponíveis e a oferta de sangue para os serviços de saúde é o desafio constante a longo prazo.
Toda esta atividade organizada deverá ser feita em colaboração com o Instituto Português do Sangue que coordena esta atividade de saúde. Toda a sociedade pode ser envolvida neste maravilhoso serviço à vida, como aliás disse Jesus Cristo “não há maior prova de amor do que dar a vida pelos que se amam” (Jo. 15,13). As comunidades cristãs podem dar testemunho deste amor fraterno.
A concluir: 
Os apelos para a dádiva de sangue são da maior justiça, as comunidades cristãs podem contribuir para o bem comum, colaborando na dádiva com a generosidade que as caracteriza. Se as pessoas têm direito à assistência em saúde (cf. Art. 25º. D.H.), as comunidades cristãs são servidoras da vida e solidárias com os que precisam.
Mons. Vítor Feytor Pinto,
coordenador nacional da Comissão 
Nacional da Pastoral da Saúde

 

Em janeiro passado, foi feito um apelo à dádiva de sangue, dado o perigo eminente das reservas de sangue entrarem em rutura nos hospitais. Este grito de alerta foi aceite, com a solidariedade de que os portugueses têm dado tantas provas. Bastaram dois fins de semana para repor os stocks essenciais e garantir a assistência aos doentes, que precisavam de transfusões sanguíneas. Foi um sinal da grande generosidade das pessoas que, nos casos mais difíceis, se propõem servir o “bem comum”.

1. O sangue, no exercício da medicina de hoje, é da maior importância. Sabemos que a arte médica está sempre ao serviço da vida e que o recurso ao sangue, com transfusões programadas e executadas no tempo próprio, permite salvar inúmeras vidas em risco. Há muitas doenças que exigem a transfusão de sangue. Por vezes, em cirurgias mais difíceis, a transfusão torna-se processo clínico indispensável durante a intervenção. Em situações de anemia grave, a utilização do sangue, com todas as suas componentes, é insubstituível para a estabilização do doente. É então indiscutível a importância do sangue no exercício da medicina, sobretudo nos casos mais difíceis.

2. A colheita de sangue tem sido uma expressão extraordinária de solidariedade e de intervenção social, sobretudo tendo em conta que é absolutamente gratuita. A gratuidade é mesmo o sinal maior desta solidariedade social. No entanto, por razões várias, tem vindo a escassear o sangue, nas unidades de saúde. A razão é fácil de encontrar. Há muitos dadores que atingem os 65 anos e não podem continuar a dar sangue. Nalgumas zonas do país, tem-se notado o cansaço de alguns dadores, uma vez que é a estes que se recorre mais vezes, sobretudo em casos de emergência. Também aumentou o número de casos clínicos que requerem a transfusão, para maior eficácia. Acontece ainda que uns tantos dadores esperavam tirar alguma vantagem pelo facto de se disporem a dar. É o caso de quem desejaria ter acesso mais fácil a cuidados de saúde, ou a isenção maior nas taxas moderadoras. Nestes contrariar-se-ia a gratuidade da dádiva. Há ainda as situações em que é difícil encontrar dadores, com tipos de sangue mais raros, para especiais grupos de doentes. Uma última causa da não dádiva pode ser a menor informação sobre as características de alguns componentes do sangue, como o plasma, não se compreendendo a sua perda. Todas estas são razões pelas quais as unidades de sangue podem escassear nos hospitais. Acresce ainda a dificuldade em encontrar novos dadores.

3. Porque o sangue é essencial à vida de muitos doentes, com situações clínicas difíceis, a Pastoral da Saúde não pode estar indiferente perante a importância da dádiva de sangue. Dar sangue tem também valor espiritual, expressão da caridade ao serviço da vida. Daí ser de grande significado que as comunidades cristãs se organizem na colheita de sangue, para a salvação dos doentes.

Esta preocupação motivou a nota da Conferência Episcopal Portuguesa que diz: “Tendo em conta a falta de sangue que se tem verificado nos hospitais, os Bispos de Portugal exortam a que os potenciais doadores exercitem este grande ato de generosidade, recorrendo a um centro de sangue do hospital da sua zona. De algum modo, dar sangue é oferecer a própria vida, um magnífico gesto de altruísmo e fraternidade solidária.”

4. Para responder a este extraordinário desafio, há vários caminhos. A Pastoral da Saúde quer propor e apoiar quatro:

A dádiva espontânea: qualquer pessoa pode dirigir-se ao hospital da sua zona para, ali, lhe ser feita a colheita de sangue. Pode fazê-lo por razões de solidariedade, mas também como expressão de fé, de reconciliação, de partilha de vida.

A dádiva em situações de emergência: poderiam assinalar-se algumas comunidades cristãs a que os serviços de saúde poderiam recorrer em casos de excecional perigo de rutura.

A dádiva em períodos do ano em que é mais frequente a falta de unidades de sangue: em janeiro e fevereiro, pico do inverno, e no período do verão, julho e agosto. Para estas duas épocas poderiam reservar-se zonas do país onde as unidades de sangue são mais necessárias. É o curto prazo.

A dádiva ao longo do ano: conseguir programar, a partir da Pastoral da Saúde nas regiões, a forma de haver dadores disponíveis e a oferta de sangue para os serviços de saúde é o desafio constante a longo prazo.

Toda esta atividade organizada deverá ser feita em colaboração com o Instituto Português do Sangue que coordena esta atividade de saúde. Toda a sociedade pode ser envolvida neste maravilhoso serviço à vida, como aliás disse Jesus Cristo “não há maior prova de amor do que dar a vida pelos que se amam” (Jo. 15,13). As comunidades cristãs podem dar testemunho deste amor fraterno.

A concluir: 

Os apelos para a dádiva de sangue são da maior justiça, as comunidades cristãs podem contribuir para o bem comum, colaborando na dádiva com a generosidade que as caracteriza. Se as pessoas têm direito à assistência em saúde (cf. Art. 25º. D.H.), as comunidades cristãs são servidoras da vida e solidárias com os que precisam.

Mons. Vítor Feytor Pinto, 
Coordenador da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde

 

 

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