Dar o pão e reivindicar direitos básicos

Iniciativa promovida pela CAIS decorre até 19 de Dezembro em Lisboa, depois de se ter estreado no Porto

A sétima edição da iniciativa solidária “Pão de Todos. Para Todos”, que pela primeira vez decorre em duas cidades, volta a insistir no simbolismo daquele alimento para falar da importância da gratuidade.

O evento, que se realizou entre 10 a 13 de Dezembro no Porto e que acontece de 16 a 19 deste mês em Lisboa, pretende “trazer ao de cima a ideia de dádiva”, levando as pessoas a pensar que “podemos ser generosos e gratuitos uns para os outros, sem que tenhamos de cobrar alguma coisa”, explicou à Agência ECCLESIA o director executivo da “CAIS”, Henrique Pinto.

O responsável da associação de solidariedade social sem fins lucrativos que promove a iniciativa desde 2004 refere que o tema escolhido para 2010, “Mãos à Obra. Porque todos somos precisos”, é um convite à participação e cidadania.

“Apesar de haver quem se sinta menos apetrechado devido à deficiência ou por ser pobre, há espaço para todos e Portugal não pode dispensar ninguém”, assinala Henrique Pinto.

A segunda finalidade do evento consiste na reivindicação de “direitos básicos, como a alimentação, habitação, trabalho e educação”, indica o professor universitário de 47 anos.

A iniciativa não se dirige prioritariamente a pessoas com carências económicas, embora não as exclua: o pão, diz Henrique Pinto, é usado simbolicamente “para falar daquilo que é necessário para a vida”.

“Mais do que matar a fome – aponta o responsável – o pão derruba barreiras e diferenças entre grupos e etnias”, intuito que é reforçado na localização escolhida para Lisboa, o Martim Moniz, espaço de cruzamento entre culturas.

Em relação às edições anteriores, o evento foi encurtado de seis para quatro dias em Lisboa, mas em contrapartida realizou-se pela primeira vez em duas cidades, mantendo-se a oferta de pão, garantida com o apoio financeiro e logístico de empresas, autarquias e cerca de 700 voluntários.

A organização optou também por reduzir o número de espectáculos e terminar o programa diário às 20h00, dado que à noite os locais onde o evento se realiza começam a ficar “demasiado desertos”, afastando o público dos espectáculos.

Para diminuir a possibilidade de as pessoas levarem o pão sem se aperceberem dos objectivos da iniciativa, estão previstos momentos de sensibilização: “Vamos repetidamente utilizando microfones e vamos falando individualmente”, diz Henrique Pinto.

Os espectáculos, com a participação de artistas e bandas que actuam gratuitamente, são intercalados com debates sobre criação de riqueza e redistribuição de lucros, biodiversidade, voluntariado e relação da Justiça com o empobrecimento.

“A ‘CAIS’ nunca quis ser um carnaval. Não somos mais uma tenda que oferece comida. Este é um evento com uma forte dimensão sociocultural, económica e política. Não é um espaço de comício nem partidário, mas um dever político de cidadania que passamos repetidamente ao longo do dia”, salienta o director executivo.

Referindo-se à estreia da iniciativa no Porto, Henrique Pinto mostra-se satisfeito, apesar de não ter sido possível optar por um espaço mais central, como a Avenida dos Aliados.

Ainda não há dados sobre o número de pessoas que passaram pelo Campo dos Mártires da Pátria, mas sabe-se que foram produzidos diariamente cerca de 10 mil pães e entre quatro a cinco milhares de copos de chocolate quente, quantidades que serão ultrapassadas em Lisboa.

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