Da nova Catedral à identidade cultural da Europa

Cristianismo na Constituição Europeia, “pecados sociais” da Igreja, limites às “acólitas”, nova Catedral e iniciativas do Patriarcado em análise por D. José Policarpo num encontro com jornalistas A Europa tem identidade. “Não se trata de ser um clube de cristãos”. Trata-se de ter uma história, uma identidade cultural que importa assumir porque “uma Europa sem história é uma Europa sem futuro”. A convicção foi expressa por D. José Policarpo aos jornalistas presentes na conferência de imprensa promovida pelo Patriarcado de Lisboa por ocasião do início do Ano Pastoral. E, caso a Europa negue a sua identidade, diz o Patriarca de Lisboa, “virá quem lha imponha!” As raízes judaico-cristãs sempre fizeram parte desta identidade, “era unânime até há meia dúzia de anos” – referia o Cardeal Policarpo. Agora a questão não encontra consenso e debate-se no contexto das relações da Igreja com a política. Erradamente. O contexto é o da definição de uma “identidade cultural”. “Aí recusar-se a fazer uma referência à identidade cultural cristã da Europa… acho isso absolutamente incrível. Não acho sério”. E D. José acrescenta a sua preocupação de ver “uma Europa que perde a sua identidade cultural”. Certo de que o “Ocidente não se pode tornar numa fortaleza que exclua quem quer que seja nessa justa mobilidade do mundo contemporâneo”, o Patriarca de Lisboa reconhece a fraqueza da Europa, livre e democrática, diante de outras culturas marcadamente militantes e com um proselitismo crescente. Por isso, a Europa “tem que gerir bem a sua entrada neste diálogo” provocado pela mobilidade humana, nomeadamente com a cultura islâmica. Pecados sociais da Igreja O muito debate sobre a recente Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa e, sobretudo, a acusação de falta de autoridade por parte da Igreja para escrever aquele documento provocou uma reacção frontal por parte de D. José Policarpo: “temos toda a autoridade. Mesmo que fosse verdade que estivéssemos errados, só significava que nos tínhamos que converter ao escrever aquela Carta”. Para além disso, o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa considera incorrectas as acusações que são dirigidas à Igreja Católica: “cometer” o “pecado social” de não pagar impostos. “Apenas as paróquias e os seminários estão livres de alguns impostos”, que são cada vez menos porque a “evolução do sistema fiscal anulou muitas das isenções” – esclareceu D. José Policarpo, lamentando ainda o facto destas críticas aparecerem quando está em preparação um novo regime Concordatário que esclarecerá em definitivo essas questões. Por causa das acólitas Para D. José Policarpo, o hipotético documento da Santa Sé que regula as celebrações litúrgicas é um “caso típico de falta de objectividade da informação”. “Já me informei através da nunciatura, e não há nada”, garantiu. Iniciativas no Patriarcado Um “Terço Vivo” será a forma de comemoração diocesana dos 25 anos de Pontificado do Papa João Paulo II. Acontece a 18 de Outubro, no Estádio Nacional, e consta de um terço vivo porque, para D. José Policarpo, a proclamação do ano do rosário teve a ver com o jubileu do Papa. “O Santo padre quis assinalar este 25º ano do seu pontificado desafiando a Igreja para o acompanhar numa dimensão que lhe é muito querida, que é o lugar de Maria na História da Salvação, e por isso mesmo também na nossa salvação pessoal, na nossa caminhada pessoal de identificação com Jesus Cristo. De 1 a 9 de Outubro de 2005 realizar-se-á, em Lisboa, o Congresso acompanhado de missão na cidade sobre o tema “Como anunciar Jesus Cristo nas grandes cidades do séc. XXI”. Lisboa é a terceira cidade onde este Congresso decorrerá (depois de Viena em 2003 e Paris em 2004) (em 2006 o Congresso realiza-se em Bruxelas e, porque já aderiu mais uma cidade, em 2007 em Budapeste). Para este projecto de evangelização, D. José Po9licarpo escreveu uma Carta Pastoral (ver em documentos). Do encontro do Patriarca de Lisboa com os jornalistas, que decorreu na manhã de hoje, Sexta-feira, no Patriarcado de Lisboa, ficaram ainda referências à possível contrução de uma nova Catedral. Para D. José Policarpo, “o projecto de uma nova catedral é um projecto de gerações. Não nos devemos precipitar com ele nem o devemos abandonar”. A opinião do Patriarca é de abandonar o projecto do Parque Eduardo VII, sobretudo por razões pastorais (não são necessários mais templos naquela zona da cidade, que não está em expansão). Terá que ser, para D. José, um templo integrado na cidade do futuro, que responda a necessidades pastorais concretas (que seja edificada num local onde exista necessidade de um templo) e, se fosse possível, que “mantivesse um diálogo com o rio”, porque para o Cardeal Policarpo “Lisboa sem o rio é arredores”. Um local possível está em estudo pelos arquitectos da Câmara Municipal de Lisboa e do Patriarcado: no “prolongamento urbanístico do Parque das Nações para Sul”. “Estamos na fase técnica à qual se seguirá depois uma fase política de decisão”, esclareceu.

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