Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor
Recentemente vi o filme de Chiwetel Ejiofor, ”O Rapaz que Prendeu o Vento.” Conta a história verídica de William Kamkwamba, um rapaz do Malawi que viveu imensas dificuldades com a sua família por não haver água suficiente para cultivar a terra. Fruto de um período de assimetrias sociais e políticas vividas em 2001, ano dos atentados às Torres Gémeas nos EUA.
No meio de um período de grande carência, William teve a ideia de construir uma torre eólica para ”prender o vento”, ou seja, capturar a energia que contém para alimentar, electricamente, uma bomba hidráulica e regar a terra. É espantosa a história e mostra como as necessidades não são um entrave à criatividade, mas, talvez, o seu berço.
O filme mostra ainda a forte ligação entre as questões ambientais e a dimensão social da vida quotidiana familiar. Há muitas pessoas no planeta que vivem grandes dificuldades devido às alterações climáticas. Seja pelas monções e furacões que tudo devastam, ou pelas ondas de calor que tornam os lugares onde vivemos quase inabitáveis. O que me impressionou foi como algo tão simples pode fazer tão grande diferença. Por outro lado, mostrou como o papel do ser humano na questão ambiental passa pela criatividade. Algo que se tem vindo a perder nas sociedades mais abastadas ao preferirem consumir em vez de criar.
”A necessidade é a mãe da invenção.” (Provérbio Inglês)
Diz o provérbio inglês, mas não só. A necessidade sem a criatividade, ou a curiosidade, não é capaz de mudar a vida das pessoas.
Na Nigéria existe um problema com a habitação. Não só construir uma casa é caro, como as condições climáticas do lugar são adversas. Por outro lado, como em qualquer lugar do mundo, o plástico é um problema severo e não sabemos o que fazer ao que é produzido em massa e vendido, por exemplo, nas garrafas de sumo.
A Organização Não-Governamental DARE (Development Association for Renewable Energies) sediada na Nigéria, juntamente com a Africa Community Trust, sediada em Londres, desenvolveram um projecto que usa garrafas de plástico de sumo, enchidas com areia para servir de tijolos. Depois, preenchem os espaços vazios com lama e cimento. A vantagem desta abordagem ecológica é a beleza das construções finais, paredes à prova de bala, fogo e que conseguem suportar tremores de terra, enquanto mantêm uma temperatura de conforto no interior da habitação.
O limite é a nossa imaginação.
As alterações climáticas estão na ordem do dia, e no início deste ano sugeri que o vivêssemos como o Ano da Criatividade. Já estamos a mais de metade de 2019. Se fizeres uma revisão daquilo que foi o teu ano, sentes que exploraste melhor a tua criatividade?
Se sim, qual o resultado? O que fizeste de criativo? Partilhas com os teus familiares e amigos?
Se não… nunca é tarde para começar. Por vezes é uma necessidade que desperta a curiosidade. Outras vezes é o contrário. Tomando como exemplo a experiência de William Kamkwamba, basta alinhar a necessidade com a curiosidade e será aí que viveremos algo, unicamente, humano, a criatividade.