A presidente da Fundação José Saramago esteve na celebração, em 2018, onde quis ser «uma sombra», «um eco» do Nobel da Literatura
Lisboa, 3 out 2019 (Ecclesia) – A presidente da Fundação José Saramago e viúva do Nobel da Literatura 1998 afirma que o D. José Tolentino Mendonça é uma pessoa de “espírito aberto”, um “espírito do Evangelho”.
A jornalista espanhola enaltece os “católicos universais, pessoas abertas às diversas manifestações da Cultura, de estar na vida”, características que encontra “em Tolentino”, afirma à Agência ECCLESIA.
Pilar del Rio dá conta que encontrou o padre Tolentino Mendonça sem o conhecer primeiro.
“Encontrei-me com ele nalguma atividade, na Capela do Rato, em Lisboa, nalgum artigo ou nalguma entrevista. Ou seja, poder-se-ia dizer que o conhecia antes de o conhecer pessoalmente. Depois, com o passar do tempo, fomos conversando, nos vários encontros, e tenho de dizer: Não sei se poderia afirmar que somos amigos, mas é uma pessoa pela qual tenho um grande respeito, tenho muito orgulho em conhecê-lo”, explica.
Foi este respeito e admiração que levou Pilar del Rio a estar presente na celebração da ordenação episcopal de D. José Tolentino Mendonça, a 28 de julho de 2018, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
“Devo dizer que no dia em que nomearam o Tolentino como arcebispo, eu tinha outro compromisso, na Galiza, mas não fui, faltei… Que São Tiago me perdoe, porque estava a fazer o Caminho de Santiago. Fiquei por cá e fiquei porque queria estar, como Pilar del Río, mas também queria estar como uma sombra, como um eco de José Saramago”, explica.
A viúva de Saramago garante que se ele estivesse vivo, também teria estado nos Jerónimos.
“Conhecia-o bem e posso dizer o que teria feito, nesse dia: teríamos estado os dois na ordenação episcopal do Tolentino. Nem José Saramago nem eu somos crentes, mas os dois somos capazes de respeitar o Cristianismo, quando se atém ao entendimento dos seres humanos”, frisa.
Pilar del Rio recorda o Nobel da Literatura como alguém que “respeitava muito a inteligência e a honestidade”.
“Os seus amigos, por norma, podiam ser de esquerda, de direita, crentes ou não-crentes, mas para serem amigos era preciso que fossem honestos. Então, a honestidade do Tolentino era um dado adquirido. Saramago não era crente – não só não era crente como era manifestamente não-crente, era ateu -, mas respeitava muito as pessoas que acreditavam e que, porque acreditavam, eram capazes de construir uma vida melhor”, sublinha.
Sobre o futuro do cardeal Tolentino Mendonça, Pilar del Rio afirma não poder antecipar, mas dá conta da relação entre o sacerdote português e o Papa Francisco.
“A mim custa-me distinguir um do outro: estão no espírito do Concílio Vaticano II, que é abrangente, que implica os seres humanos numa melhoria das condições de vida de todos”, afirma.
“Modestamente, penso que o que Tolentino Mendonça pode fazer pela Igreja é reformá-la, com o Papa Francisco a alguns outros. Desprender-se de tantos dogmas, de tanto pó que estão acumulados, de tanta falta de compreensão do que os seres humanos são: somos sentimento, somos paixão, somos razão. Transformar a Igreja para ser um instrumento de salvação, não só na eternidade mas também na terra. Penso que Tolentino está no grupo das pessoas que podem ser um fator positivo para a Igreja Católica”, finaliza.
O Papa Francisco nomeou cardeal o bibliotecário e arquivista da Santa Sé, D. José Tolentino Mendonça, no dia 1 de setembro; o poeta e sacerdote português vai receber as insígnias cardinalícias este sábado, dia 5 de outubro.
D. José Tolentino Mendonça nasceu em 1965 na localidade de Machico, no Arquipélago da Madeira, foi ordenado padre em 1990 e bispo no dia 28 de julho de 2018, no Mosteiro dos Jerónimos, quando completava 28 anos de sacerdócio, recebendo simbolicamente a sede episcopal de Suava, no norte de África.
O programa 70×7 deste domingo, emitido às 07h30, na RTP2, recolhe testemunhos de diferentes personalidades sobre as marcas do cardeal Tolentino Mendonça.
LS