D. Januário Torgal Ferreira defende pluralidade na acção política dos católicos

Prelado apela a uma reflexão global sobre os valores morais, que inclua a defesa da vida e a opção preferencial pelos mais pobres D. Januário Torgal Ferreira defende a pluralidade na acção política dos católicos, considerando que a mesma não está limitada à direita. “No Portugal de outras épocas, a Igreja podia ‘fazer política’, logo que fosse de direita… se não fosse de direita, esse ‘fazer política’ era traição de lesa-Pátria. Que em democracia, essas incoerências sejam curadas!”, aponta o prelado na sua crónica semanal “Ao compasso do tempo”, publicada na página do Ordinariato Castrense (http://castrense.ecclesia.pt). O Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança apela a uma reflexão global sobre os valores morais, que inclua a defesa da vida e a opção preferencial pelos mais pobres. “A coragem em preservar a família, em defender a sã e respeitadora formação de crianças e jovens e em tomar posições sobre a defesa de vida é a mesma que actua no domínio das preocupações da paz, que classifica a guerra de desumana, que discorda do trabalho precário, que denuncia a escravatura dos oprimidos…”, ressalta. Sob o título “Fazer política, a Igreja?”, o texto comenta as recentes polémicas, surgidas no decurso desta campanha eleitoral, quando se levantou o problema de a Igreja “interferir no domínio político em geral, e no particular de opções partidárias, a assumir no momento da votação”. D. Januário Torgal Ferreira considera, a este respeito, que a Igreja tem todo o direito de “enunciar princípios seus e para os seus, acentuar as ‘luzes’ da consciência, iluminar rumos e estilos de conduta no âmbito da formação individual”, afirmando que essa acção “é totalmente diferente da mesma Igreja se configurar como uma força mundana, com pessoas e instâncias em ordem ao domínio do temporal”. “Mesmo no decurso de campanha eleitorais, cabe ao magistério de cada confissão religiosa chamar a atenção para concepções que desafiam o momento temporal, longe de se configurar como um impulso de força política partidária”, escreve. Nesse sentido, o prelado lembra que é responsabilidade da Igreja “debruçar-se sobre problemas e concepções de família, da orientação sexual, do aborto ou da eutanásia”, posições que têm sido recebidas com incómodo por alguns sectores da sociedade, mas defende que “no mesmo grau, é função do seu magistério social formular directrizes sobre o justo salário, a cooperação entre classes, a justiça diante da imigração, a defesa dos direitos humanos, etc.”. Assumindo que o destaque dado à defesa da vida é muito maior do que o dado a estas últimas opções, D. Januário confessa: “o que eu acho é que, nestes domínios sociais, os crentes são muito menos sensíveis e empenhados”. “Acontece insurgirem-se, inclusivamente, e até denunciarem a quem de direito, o padre X… ou o bispo Y, pelo simples motivo de eles terem criticado situações políticas, defendidas pelo clube partidário de que esses cristãos eram sócios”, lamenta. Como caminho para esta campanha, o prelado espera que “os critérios da formação cristã da consciência (sejam os do aborto ou os do repúdio de despedimentos laborais, por ex.) sejam reflectidos, estudados e dialogados, ao contrário de desencadearem autos de fé”. Além disso, manifesta a esperança de que “esses critérios e soluções da parte de um sistema religioso nunca sejam enunciados como imposição a uma sociedade em geral”.

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