D. Eurico arrasa comissão do Centenário da República

Na apresentação do livro sobre D. António Barroso, em Remelhe O Bispo emérito de Braga lançou no passado Domingo uma crítica contundente ao processo de formação da comissão de honra das comemorações do centenário da República Portuguesa. D. Eurico Nogueira, que presidia, na igreja paroquial de Remelhe, Barcelos, à cerimónia de apresentação do livro “D. António Barroso e a Primeira República”, da autoria do padre Adílio Macedo, referiu mesmo que «esta comissão não merece qualquer confiança, apesar de todos reconhecerem a capacidade científica dos elementos que a compõem».Sem pretender cair em generalizações ou censurar o Governo, o ex-titular da cátedra arquidiocesana sugeriu que os discursos proferidos durante os festejos, que têm lugar daqui a cinco anos, fossem marcados pelo«rigor histórico, evitando-se o facciosismo».Perante um templo lotado de pessoas, D. Eurico Nogueira contextualizou a vida e a obra de D. António Barroso, que sofreu as dificuldades da Primeira República, sem deixar de se referir a algumas decisões governamentais consideradas por sectores da Igreja Católica como resquícios do republicanismo primitivo.«Convidaram-me, ainda como Arcebispo titular, para a inauguração da estátua de Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão. Rejeitei o convite por não querer estar presente na homenagem promovida a um corifeu do regime daquela época, que ajudou a perseguir os meus antecessores», contou o prelado bracarense, que, no entanto, salientou que, «a Igreja deve perdoar, mas nunca esquecer os factos da história».Classificando os acontecimentos da Primeira República como «a degradação máxima de uma sociedade», D. Eurico Nogueira criticou «os heróis que se julgavam os representantes da vontade popular, que nunca procederam a uma consulta nacional».«Não estou contra a República actual», sustentou o Arcebispo emérito de Braga, que recordou, igualmente, os «sacrifícios» de D. António Barroso e dos bispos nortenhos da época, D. Manuel Vieira de Matos e D. Sebastião Vasconcelos, destituídos das suas funções eclesiásticas por decreto governamental. Telegramas elucidativos Por seu turno, o autor da obra sobre o Bispo missionário – prelado nos continentes africano, asiático e europeu – começou por dizer que «o livro nasceu de uma investigação e de um achado».«Investigação feita no arquivo restante da casa de D. António Barroso. Não é um grande arquivo. Está contido numa única gaveta. Seria grande, certamente, em atenção à vida e às vicissitudes do nosso homenageado. Dele ficou apenas uma pequena parte restante, onde descobri um envelope de valor», contou o padre Adílio Macedo, que acrescentou que aí se encontravam «os originais dos telegramas de Afonso Costa, respeitantes à luta ardorosa da Pastoral Colectiva. Estavam pela sua ordem, acompanhados das minutas de respostas. Tudo o que era necessário para compreender o ardor da luta entre Afonso Costa e D. António Barroso».Este conflito institucional, «o núcleo fundamental do livro», culminaria com a destituição do Bispo missionário. «Foi nesta altura que D. António Barroso afirmou aos seus amigos que há duas coisas de que o Bispo do Porto não há-de morrer: nem de parto, nem de medo!», explicou o pároco de Remelhe, cuja obra também aborda o exílio do prelado barcelense e a Lei da separação do Estado das Igrejas, um decreto de 20 de Abril de 1911.«Um segundo exílio, desta vez em Coimbra, terminou de forma diferente: enquanto D. António saía em liberdade, Afonso Costa entrava na prisão», referiu o padre Adílio Macedo, afiançando que «é Deus quem orienta os cordelinhos da história. No fim da sua vida de luta, D. António ainda teve a bondade e a caridade de mandar escrever no seu testamento: “De todo o coração e diante de Deus, perdoo a todos os que voluntariamente ou involuntariamente me ofenderam…”»No final da cerimónia de apresentação, os presentes dirigiram-se ao monumento dedicado a D. António Barroso, que se situa diante da igreja de Remelhe, onde foi depositada uma coroa de flores. Seguiu-se um convívio no salão paroquial.

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