D. António Vitalino escreve aos padres e cristãos de Beja

Aos clérigos e fiéis leigos da diocese de Beja no início do ano pastoral de 2009/2010

Depois de um Verão quente, com muitos incêndios florestais e também com muitas empresas a encerrar a produção e os seus trabalhadores a ficarem em situação de desempregados, alguns com poucas hipóteses de encontrarem trabalho noutra empresa, mesmo mudando de profissão, o ritmo acelerado da vida social arranca para mais um ano escolar.

A Igreja, a nível diocesano e paroquial, com os seus serviços e movimentos, retoma também o seu ritmo normal, procurando acompanhar as pessoas, dando-lhes o alimento espiritual que precisam, para não ficarem reduzidas aos mecanismos do trabalho ou do lazer, sem horizontes de esperança. Não podemos esquecer que o centro das nossas atenções deve ser a pessoa humana, inserida no seu espaço familiar, geográfico, social, cultural, político e eclesial.

Se em planos pastorais dos últimos anos nos centrámos na família, num deles afirmando mesmo que esse era o caminho da Igreja, neste novo ano teremos a pessoa como caminho da missão da Igreja, vendo-a com os olhos de amor de Jesus Cristo, que não veio para condenar, mas para salvar o mundo. Não podemos pensar e agir como se a pessoa humana e a pessoa de Jesus Cristo sejam opostas. Ninguém pode encontrar a pessoa de Cristo se não se encontrar com a pessoa humana e a amar, parafraseando a primeira carta de S. João.

Uma pastoral apenas voltada para o sobrenatural e transcendente torna-se um espiritualismo irreal, que relega a Igreja para a sacristia, tornando-a infiel à sua missão evangélica. Mas também é verdade que uma acção eclesial centrada no ser humano desligado da sua abertura e relação com Deus, que se nos manifestou na pessoa Jesus Cristo, se converte numa filantropia que diminui a dignidade da pessoa humana. É caso para lembrar a afirmação solene do Concílio Vaticano II, há 44 anos : « o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente » (GS nº 22). A descoberta de Deus em Cristo faz-se pela mediação da natureza humana, com a luz do Evangelho e as interpelações que nos vêm das pessoas com quem vivemos neste nosso tempo, que é também tempo favorável da salvação.

Neste ano houve algumas mudanças nos serviços diocesanos e tentamos ir ao encontro das necessidades das paróquias espalhadas e dispersas neste Baixo Alentejo, a área da nossa paróquia. Vamos tentar reavivar o nosso fôlego apostólico, em que todos os cristãos, clérigos e leigos, se devem empenhar e corresponsabilizar, cada um segundo a sua vocação e condição. O nosso plano pastoral define apenas algumas linhas de força, esperando que, ao longo do ano, vá ganhando estrutura e corpo completo.

Reestruturamos também a escola de ministérios, para oferecer a formação mais adequada às nossas necessidades. Sem formação permanente, não seremos capazes da dar razão da nossa esperança. Só como discípulos de Cristo, sempre a seguir o Mestre, poderemos ser suas testemunhas e apóstolos no mundo de hoje. Ninguém deveria desperdiçar esta oportunidade que a diocese oferece, descentralizada da cidade de Beja, de acordo com as necessidades e solicitações. Pedimos aos nossos mais directos colaboradores a nível diocesano e paroquial para divulgarem estas iniciativas e entusiasmarem os indecisos.

Desafiados pelo Santo Padre, o Papa Bento XVI, este será um ano sacerdotal, tendo S. João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars, como modelo de pároco e sacerdote. Há 150 anos, quando ele morreu, deixou a sua paróquia e o mundo mais despertos para a sua relação com Cristo, muito diferente do deserto espiritual que encontrou quando foi enviado para Ars, no rescaldo da revolução francesa e das guerras napoleónicas. Como ele, levando o amor do Coração de Deus aos nossos ambientes frios, impessoais e anónimos, cultivando relações de proximidade e atenção ao nosso próximo, queremos transformar o deserto em oásis, onde não há acepção de pessoas, mas irmãos em Jesus Cristo e companheiros de viagem… Neste sentido, quero pedir a todos os diocesanos oração e estima pelos nossos sacerdotes e pelo nosso seminário, onde eles se formam.

Com este propósito de caminhar com todos, confiado na entre-ajuda de todos, clérigos e leigos, convoco todos os colaboradores, a nível diocesano e paroquial, para a abertura deste ano pastoral de 2009/2010, a 26 de Setembro, no Centro Pastoral-Seminário de Beja, com início às 9,30 horas e encerramento com a celebração da Eucaristia, aberta a todos os diocesanos.

Unidos a Cristo e uns aos outros, seremos capazes de incutir esperança ao mundo que nos rodeia. Obrigado pela vossa resposta. Para todos um ano repleto dos dons e das bênçãos de Deus na implantação do seu Reino de amor e justiça entre nós.

D. António Vitalino, bispo de Beja

 

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