D. António Marcelino: Uma vida cheia de pedaços conciliares

O esquecimento, por parte de muitos, do II Concílio do Vaticano foi uma preocupação ao longo do múnus pastoral de D. António Marcelino, falecido neste mês de outubro. Cinquenta anos depois do início dos trabalhos conciliares, o prelado observava «que muitas coisas estão em aberto e que já se sentem nostalgias e se vêem tentações de voltar ao pré-Concílio. Isso preocupa-me muito».

O esquecimento, por parte de muitos, do II Concílio do Vaticano foi uma preocupação ao longo do múnus pastoral de D. António Marcelino, falecido neste mês de outubro. Cinquenta anos depois do início dos trabalhos conciliares, o prelado observava “que muitas coisas estão em aberto e que já se sentem nostalgias e se vêem tentações de voltar ao pré-Concílio. Isso preocupa-me muito” (In: Correio do Vouga, 30 de novembro de 2011).

Na mesma entrevista, concedida a Jorge Pires Ferreira este provoca o, na altura, bispo emérito de Aveiro, deste modo: «Agora que está sem a responsabilidade de uma diocese está mais livre nas palavras que escreve e, logo, mais crítico, ou até mais profético». A resposta demonstra bem a visão eclesial de D. António Marcelino: “Tenho ouvido esse comentário que tem alguma razão de ser, porém, o que tenho dito e escrito, desde 1981, está publicado nos volumes «A vida também se lê». Aí, se pode ver, de modo muito claro, que nunca deixei de estar na praça pública com propostas, críticas e opiniões sobre assuntos e acontecimentos de interesse social e eclesial”.

Para D. António Marcelino, as lições da sua mãe, “como recados de Deus”, ficaram cunhadas na sua vida. O II Concílio do Vaticano disse-lhe “que o servo não é senhor. A minha mãe já mo tinha dito e ensinado de muitas maneiras, ainda antes de eu ser padre” (In: Marcelino, António Baltasar – Pedaços de Vida que geram vida – Experiências e vivências em Missão, Lisboa, Paulinas, p. 19).

Os conselhos maternais caminharam sempre consigo. Talvez, por isso, o incomodava a palavra «dom» antes do seu nome próprio. “Não o posso evitar, infelizmente, mas decidi nunca assinar o meu nome com tal adereço”. Esse “é tratamento de fidalgos”. E o brasão episcopal? “Nunca o quis, nunca o tive. Se, por burocracia, o necessitasse alguma vez, a diocese teria, por certo, o seu selo próprio. E devo dizer que nunca me fez falta”, reconheceu na obra citada.

Das lições de sua mãe vinha também “o enjoo pelos títulos de adorno, que a Igreja teima em conceder a clérigos, como se o ser simplesmente padre ou bispo não chegasse”. Aprendeu cedo que a “honra está em ser fiel ao que Deus nos dá e nos pede, e que as honras que vêm de fora são, depressa, «flor que murcha e erva que seca»”, escreveu em Pedaços de Vida que geram vida – Experiências e vivências em Missão.

Aquando da sua estadia em Roma para estudar, ainda antes da convocação, por João XXIII, do II Concílio do Vaticano, o jovem padre António Marcelino recorda uma ida de D. Sebastião Soares de Resende, na altura bispo da Beira (Moçambique) ao Colégio Português, na capital italiana. O prelado da diocese moçambicana desafiou os “padres novos e doutores em perspectiva” a investigar e estudar a “sério a necessidade do catecumenato, da iniciação cristã”, que já era um problema da década de 60 do século passado e seria também nas décadas seguintes. O estudante levou a peito o desafio e aprofundou estas questões pastorais. No entanto confessou mais tarde: “A ousadia ficou-me cara”…

LFS

 

 

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