Exposição «Olhares sobre a Livraria do Convento da Arrábida» encerrou com conversa a partir de «livros raros»
Torres Vedras, 29 out 2018 (Ecclesia) – O franciscano frei Hermínio Araújo disse hoje que uma ‘biblioteca básica de espiritualidade’ deve ter textos e livros como o ‘Juramento de Hipócrates’, ‘O Principezinho’, o ‘Livro do Desassossego’, o ‘Evangelho Segundo Jesus Cristo’ de José Saramago.
“Defini a espiritualidade como experiência de relação da pessoa com ela própria, com os outros, com todos, com a natureza, com a criação e com Deus, se estamos a falar de crentes”, explicou em declarações à Agência ECCLESIA.
O frade Franciscano, do Convento do Varatojo, falou sobre ‘Textos para uma biblioteca básica de espiritualidade’, seguindo a inspiração dos frades do Convento da Arrábida e tendo “muito presente a ideia da representatividade, da pluralidade”, por isso, apresentou obras para além da “espiritualidade cristã e da religião”.
O convento na Serra da Arrábida (Setúbal) foi fundado por frei Martinho de Santa Maria, em 1542, e a sua biblioteca tinha uma grande diversidade temática de obras religiosos, não religiosas, e algumas censuradas.
Para frei Hermínio Araújo, por exemplo, uma biblioteca básica de espiritualidade deve ter livros dos séculos XX e XXI, como ‘A mística do instante’, que tem “muito a ver com espiritualidade a partir dos sentidos muito presente no Arrábidos”, ou ‘Elogio da Sede’, do arcebispo José Tolentino Mendonça.
No ‘Evangelho segundo Jesus Cristo’, o Prémio Nobel da Literatura português José Saramago “levanta a problemática do sofrimento, que toca crentes e não crentes”, e está “muito na linha” do arcebispo português.
Outras sugestões são ‘O Principezinho’, “um livro paradigmático de experiência espiritual” mesmo não necessariamente ligada à religião, o ‘Livro do Desassossego’ “onde se trabalham profundas questões espirituais” mas também autores ligados à saúde, uma “espiritualidade ligada ao acompanhamento das pessoas em sofrimento”, como o livro ‘O Poder do Agora’, de Eckhart Tolle, que é “muito mais do que autoajuda”.
‘Mindfulness’, do psiquiatra espanhol Vicente Simón que são “exercícios de meditação contemplativa” e no seu ‘Tratado de oração e meditação’, dos “mais representativos da Arrábida”, o frade São Pedro de Alcântara também aborda esta questão.
O sacerdote Franciscano apresentou cerca de 100 autores e mais de 150 textos, desde o Judaísmo antigo, ao primeiro ensinamento de Buda, o Juramento de Hipócrates, ou a Fábula do Cuidado.
“Alguns são uma página A4 porque são grandes referências”, acrescentou, destacando, “pequenos textos” como ‘Carta da Compaixão’, ‘Decálogo de Assis para a Paz’, ‘Carta da Transdisciplinaridade’, ‘Carta da Terra’.
Para falar sobre livrarias franciscanas e livros raros foram convidados também Fernanda Campos, especialista em livrarias conventuais Franciscanas, a bibliotecária Teresa Amaral do Palácio Nacional de Mafra, e Teresa Lança Ruivo, da área de conservação de coleções da Biblioteca Nacional de Portugal.
A exposição ‘Olhares sobre a Livraria do Convento da Arrábida’ promovida pela Fundação Oriente, em Lisboa, encerrou este domingo, 28 de outubro, e o frade português destacou que chamou “a atenção dos investigadores e não só” para uma coleção “muito interessante”.
A mostra tinha 36 obras, datadas entre 1507 e 1860, de um acervo bibliográfico com 2865 volumes que foi inventariado e pode ser consultado no catálogo online do Centro de Documentação António Alçada Baptista.
Frei Hermínio Araújo realçou ainda a ligação da exposição ao projeto ‘Os frades e os livros’, dedicado à “divulgação dos grandes clássicos da espiritualidade”.
Esta noite, vão falar sobre ‘Elogio da sede’, às 21h30, no Convento Franciscano da Luz, em Carnide (Lisboa) e sobre o ‘Tratado de oração e meditação’, de São Pedro de Alcântara, a 24 de novembro, na Arrábida.
CB/PR
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