«Cultura económica» sem dimensão humana

Comissão Nacional Justiça e Paz publica mensagem para a Quaresma 2014

Lisboa, 10 mar 2014 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) publicou hoje a sua mensagem para a Quaresma 2014, na qual alerta para a difusão de uma “cultura económica” e um “discurso político” sem “dimensão humana”.

“É notória a quase exclusiva centragem do debate, envolvendo quase todos os quadrantes políticos, em indicadores expressos em unidades monetárias, com flagrante menosprezo dos que refletem as condições de vida dos portugueses”, refere o documento do organismo católico, presidido por Alfredo Bruto da Costa.

A mensagem, intitulada ‘Pobreza e Riqueza de Deus e dos Homens’, inspira-se na reflexão apresentada pelo Papa Francisco para o tempo litúrgico que serve de preparação para a Páscoa deste ano.

“Não é aceitável pensar em políticas de disciplina orçamental (uma questão de números) sem medir as implicações que virão a ter na austeridade, ou seja, nos sacrifícios que acarretam e no modo como estes se distribuem”, pode ler-se.

A CNJP critica a confiança cega de alguns responsáveis nos “mecanismos do mercado”: “Agora, para alguns, para além de buscar a disciplina orçamental, não haveria mais a fazer do que esperar”.

Os responsáveis católicos destacam que Portugal “está em crise”, uma situação em que as “exigências evangélicas adquirem maior importância e sentido de urgência”, em particular face a “centenas de milhares de desempregados”, muitos sem qualquer subsídio, e “pessoas que só se alimentam porque dispõem de ajudas sociais e subsistem por recurso a serviços e instituições sociais”.

O organismo laical adverte para uma “dicotomia entre o país e os portugueses”, nalguns discursos político, “assimilando o primeiro a alguns indicadores instrumentais e de duvidosa evolução, por um lado, e as condições de vida das pessoas, que são (deveriam ser) a razão de ser da economia e das finanças, por outro”.

“Quando se estabelece uma distinção entre «disciplina orçamental» e «austeridade», para substituir esta por aquela, contribui-se para o «branqueamento» tecnocrático da austeridade, até agora inextricavelmente associada àquela disciplina”, acrescenta o texto enviado à Agência ECCLESIA.

A CNJP sublinha que o Papa não fala dos pobres na “perspetiva de um ativista social ou político”, mas como alguém que encontra no tema uma “dimensão essencial da mensagem cristã”.

Neste contexto, recorda-se que a crise e os sacrifícios que vêm sendo impostos poderão “sugerir um modo de «ser pobre» diferente do que poderia ser na ausência desses sacrifícios, designadamente na relação de cada um com o mais necessitado”.

“Para os cristãos, portanto, a adoção de um novo estilo de vida, marcado pela pobreza evangélica, aparece como uma exigência da fé, independentemente de a sociedade portuguesa e, em certa medida o mundo, estarem a atravessar uma crise”, prossegue a reflexão.

A CNJP, organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa, foi criada com a finalidade genérica de “promover e defender a Justiça e a Paz, à luz do Evangelho e da doutrina social da Igreja”.

OC

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