Cultura: «A música pode ser ponte para um caminho espiritual» – Rodrigo Leão (c/vídeo)

Resultado do confinamento no Alentejo, o compositor português lança «Avis 2020», músicas que ilustram imagens recolhidas da passagem do inverno para a primavera, da sua passagem da tensão à esperança

Foto: Augusto Brázio, www.rodrigoleao.pt

Lisboa, 17 jul 2020 (Ecclesia) – O compositor Rodrigo Leão disse que a música que compõe traduz “paz e sossego”, abrindo caminho para um “lado espiritual de viver e encarar a vida”, e assume que essa pergunta está mais presente nos seus últimos trabalhos.

“Há quase uma espécie de filosofia que está muito presente nos meus trabalhos. Fazemos muitas perguntas para as quais não temos respostas e muitas dessas perguntas até fazem sentido precisamente porque não têm resposta e há algo de misterioso, de espiritual, muito mais intenso nestes últimos trabalhos”, afirma em entrevista à Agência ECCLESIA, por ocasião do seu novo trabalho «Avis 2020», que é lançado hoje.

O nome do EP provém de uma vila alentejana, local que é “casa”, um projeto “sonhado e construído” a par com a sua mulher, sítio onde casaram “no meio das oliveiras” e refúgio de todas as horas.

É nesta casa alentejana, que mostra um “silêncio fantástico”, que o compositor português passa os seus dias de confinamento, e foi neste contexto que as nove músicas do EP «Avis 2020» surgiram, testemunho do que foi o seu viver ora “tenso” ora mais esperançoso.

Estou a lembrar-me da primeira ideia: uma música com nuvens ao fim do dia e que acho que reflete aquilo que estávamos a viver, o que eu sentia, apesar de estarmos aqui com a família e dois amigos chegados e podermos fazer caminhadas e passear. É evidente que estávamos preocupados, como ainda hoje estamos preocupados. Depois há algumas ideias onde já se nota alguma esperança, seja nas imagens onde já aparece mais luz, onde se nota que a primavera está a começar e isso está tudo muito presente nestes trechos. Acabaram por estar ligados, não só com as pessoas à minha volta, como com este sítio onde estamos”.

Compositor a solo desde 1993, sente-se agradecido por “ter tido a sorte” de realizar tantos projetos diferentes e ter trabalhado com pessoas que admira.

“As pessoas acabam por perceber a minha maneira de trabalhar e a música que eu tento fazer e dar a conhecer. Grande parte das pessoas sabe que eu sou um autodidata, aprendi a tocar com os amigos, não tenho em mente fazer coisas que não sei fazer. Tenho tido muita sorte”, assume.

Nas composições simples e “muito intuitivas” pode ler-se um percurso que não se desliga da sua vida pessoal: “É impossível conseguir desligar aquilo que estamos a fazer em determinado momento da realidade de tudo que está à nossa volta. Mas sempre de forma intuitiva. Não creio que as músicas que tento fazer sejam demasiadamente pensadas, surgem naturalmente e vão ressurgindo”.

O entrevistado reconhece que as suas composições oferecem “paz e sossego” ao público e, por isso, não lhe é estranho reconhecer uma banda sonora espiritual nas suas músicas que se podem ouvir de forma mais intimista e convidam a “pensar na vida”.

Acredito que todos nós temos um lado espiritual de viver, de encarar a vida: porque é que existimos? Para onde vamos quando morrermos? Porque nascemos? Tudo isto acaba por, de uma forma inconsciente, estar presente em muitas ideias que tento fazer”.

Na música que compõe reconhece uma “ponte” para um caminho espiritual, um espaço para “pensar na existência de um Deus”, que de maneira diferentes se apresenta às pessoas.

Depois de quatro meses em confinamento, Rodrigo Leão olha para este tempo que “não deixa fazer planos” como uma oportunidade para que “algo de bom possa acontecer às pessoas”.

“Gostava de acreditar que no meio de tudo isto possa acontecer alguma coisa de boa às pessoas, na maneira de olharmos para o mundo, de olharmos para as outras pessoas. Vivemos momentos de uma incerteza tão grande que não nos deixa fazer planos. Espero que as pessoas possam, acima de tudo, ajudar-se umas às outras, serem mais humanas, ter mais atenção com tudo o que está à nossa volta, com o clima, com tudo”, finaliza.

LS

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Agência ECCLESIA

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