Sónia Neves, Agência ECCLESIA
A arte do cuidar, “o cuidado com”, traz-me à memória o melhor dos afetos, quem faz nascer, quem arranja, quem toma conta, ajuda, acompanha, serve, gasta tempo, dá a mão e protege.
A palavra ‘cuidado’, mote para este artigo, surgiu numa entrevista com um jovem sacerdote que dizia que a Quaresma é tempo para “trabalhar com cuidado o coração”, que o cuidado leva à delicadeza, o que nos torna mais humanos.
Gostei da abordagem e por isso a partilha. Fez-me bem a reflexão sobre o cuidar, “cautela, inquietação de espírito, advertência”, mas por especial intenção, o cuidado do outro. Na família, cuidar da saúde, cuidar da casa, da nossa casa comum, cuidar de mim e dos outros, também da Igreja, cuidar das pessoas e espaços.
“Trabalhar com cuidado o coração” é o apontar do dedo para dentro, pode ser o olhar para o lixo que não se arrumou na vida e, com toda a coragem, limpar, varrer, deitar fora e, em limpeza de primavera, poder arejar e o sol, lentamente, voltar a iluminar.
E não podemos esquecer as tantas vezes que o Papa Francisco indica o caminho do cuidado, na encíclica ‘Laudato Si’ e todos os cuidados lá descritos, a “gramática do cuidado”, numa mensagem do Dia Mundial da Paz, ou o cuidado pedido para com os idosos, no dia dos Avós.
O cuidar bem e a confiança foi o que levou tantas crianças à responsabilidade de várias instituições da Igreja, muitas terão sido bem cuidadas, cresceram e seguiram felizes. Para outras, o cuidado falhou e os abusos foram realidade. Esta falta de cuidado gerou sofrimento e traumas, vidas marcadas.
Desejo o cuidado necessário para todos, é preciso cuidar quem saiu ferido, cuidar quem esteve mal, prevenir que não se repete e que o cuidado de todos seja a bandeira. Cabe a todos estarmos atentos e sermos cuidadores, seguir lado a lado na fé e caminharmos juntos.
Também na sociedade civil cabe a todos o olhar atento e o cuidado ao que está ao nosso lado.