O Centro Nacional de Cultura, em Lisboa, acolheu esta Terça-feira um debate subordinado ao tema “Cristianismo nos Meios de Comunicação”, no qual vários profissionais da área questionaram os critérios que levam à escolha dos acontecimentos a noticiar no campo da religião. A iniciativa inseriu-se no ciclo de Colóquios 2007/2008 promovido pelo Centro de Reflexão Cristã (CRC). Paulo Rocha, director da Agência ECCLESIA, abordou a presença do religioso no pequeno ecrã, afirmando que “mais do que critérios editorais das estações de televisão, a presença do cristianismo e o tratamento que dele se faz depende de convicções religiosas de profissionais que trabalhem nas respectivas estações”. Segundo este responsável, editor executivo do Programa ECCLESIA, da Igreja Católica (De Segunda a Sexta-feira às 18:30 horas, na RTP2), a “existência, nomeadamente nas redacções, de jornalistas pertencentes a diferentes confissões religiosas faz com que o religioso tenha um tratamento diferente, com mais rigor, com mais criatividade”. “Caso contrário, o que passa em antena é fruto do que chega pelas agências ou reacção ao que é publicado nas edições diárias ou semanais dos jornais (como acontece com tantas outras histórias que passam na televisão) e normalmente não se pauta pelo rigor informativo e muito menos pela investigação dos dossiers que permitam uma clarificação dos temas abordados em antena”, alertou. Para Paulo Rocha, a abordagem inter-confessional “define a presença do religioso na televisão”, tanto na presença institucional das confissões religiosas como na inclusão esporádica do acontecimento religioso em espaços de programação ou de informação”. “Independentemente do passado histórico ou do peso institucional que possa transportar, as confissões religiosas não conseguem ‘vender-se’ às televisões pela importância que possam reivindicar. Editores e repórteres deixaram de olhar, em matéria de religião, ao nome, para atender ao que o nome significa”, assegurou. Produção limitada António Marujo, do Público, considerou que “hoje estamos pior em alguns âmbitos desta relação do que há 18 anos”, quando começou a sua carreira neste jornal. Para o jornalista, a ignorância, o preconceito e a linguagem são factores que afectam o trabalho de quem está atento a esta área. José António Santos, Secretário-Geral da Lusa, revelou que da produção total dos conteúdos, 0,9% é sobre religião. Percentagem mais baixa, na Lusa, só a Agenda e a Meteorologia. Considerando apenas os textos produzidos, 0,8% inclui-se no tema religião. Quer isso dizer que em 125 notícias, 1 é de religião. Confrontado com a dificuldade em perceber sinais do cristianismo no conteúdos produzidos pela Lusa, este responsável frisou que na Agência “não há lugar para o achincalhamento da dignidade da pessoa humana”, à medida do que pede Bento XVI na sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano. Francisco Sarsfield Cabral referiu que a comunicação, hoje, está em transformação e é cada vez mais multimédia. Nesta sociedade extremamente mediática, há dificuldades de adaptação, nomeadamente pela Igreja Católica. Para o Director de Informação da RR há um “desinvestimento no jornalismo especializado”, também no tema religião. A Renascença, assegura, é um caso de êxito, onde se “consegue uma boa conjugação de entretenimento, de informação e evangelização”. Jornal Católico No debate, foi também considerado o trabalho da Agência ECCLESIA. Com avaliação e evolução positiva, os intervenientes na mesa consideraram-na claramente “eclesiástica”. Paulo Rocha sustentou que essa é uma característica que faz parte da sua identidade e é reivindicada pelos próprios leitores, porque procuram nos textos da Ecclesia a posição da Igreja Católica. No entanto, abre espaços para a opinião “séria” dos leitores, através do “Jornal de Opinião” (uma secção do portal da Agência) e inclui na sua reportagem as várias experiências eclesiais, nomeadamente as que acontecem em Portugal. A questão de um “jornal católico” mereceu também o debate entre os presentes. Convidados a manifestarem a sua opinião, os intervenientes neste Colóquio do CRC consideraram a dificuldade, nomeadamente financeira, para um projecto desse tipo. A existência de jornalistas com capacidade e vontade para desenvolver um projecto desse tipo, nomeadamente semanário, foi também adiantada, bastando que aparecesse um mecenas que suportasse. Por outro lado, a evolução do actual Semanário da Agência Ecclesia foi também apontada como uma boa possibilidade para a publicação de uma revista católica em Portugal. OC/PR FOTO: CRC