Cristãos enfrentam desentendimentos

Festa do ecumenismo na Roménia não esconde as dificuldades que persistem nas relações entre Igrejas e comunidades A III Assembleia Ecuménica Europeia (AEE), que decorre desde o passado dia 5 na Roménia, tem procurado enfrentar dificuldades – novas e históricas – nas relações entre Igrejas e comunidades cristãs. O clima de festa que se vive na cidade de Sibiu não apaga as marcas dos desentendimentos que se arrastam no diálogo entre cristãos, apesar dos compromissos que, ciclicamente, se vão assumindo no sentido da unidade entre os seguidores de Jesus. Sem a presença de Bento XVI, em peregrinação à Áustria, foi ao Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, que coube assumir as honras da casa – é a primeira vez que a AEE decorre num país de maioria ortodoxa -, reiterando “a convicção irremovível do mundo ortodoxo de fazer tudo o que for possível para restaurar a comunhão entre as Igrejas”. O homem do Vaticano para o diálogo ecuménico, Cardeal Walter Kasper, admitiu as dificuldades presentes, afirmando que “não podemos esconder as feridas. Um ecumenismo de afagos e carícias não facilita o progresso, somente um diálogo verdadeiro e claro pode sustentar um avanço”. O presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos (CPPUC), não fugiu à problemática levantada pelo último documento da Congregação para a Doutrina da Fé, intitulado “Respostas a dúvidas sobre alguns aspectos relativos à doutrina sobre a Igreja”. D. Walter Kasper assegurou que nunca foi intenção da Igreja Católica “ferir ninguém”. O documento afirma, por exemplo, que às “comunidades cristãs nascidas da Reforma” é rejeitada a denominação de Igreja, dado que “não têm a sucessão apostólica no sacramento da Ordem e, por isso, estão privadas de um elemento essencial constitutivo da Igreja”. “O sofrimento e a dor dos meus amigos é também a minha dor. Não era nossa intenção ferir ou diminuir quem quer que seja”, explicou. Perante cerca de 2500 delegados de todas as Igrejas da Europa, o presidente do CPPUC indicou que este documento colocou em evidência “todas as diferenças que ainda subsistem”. “Sei que muitos, em particular os irmãos e irmãs evangélicas, se sentiram feridos por isto. Esta situação não me deixa indiferente e representa um peso, também para mim”, acrescenta. Falando do “método da convergência” que tem sido utilizado, até agora, o presidente do CPPUC considera que o mesmo se encontra “esgotado”, convidando todos a avançar para além do “mínimo denominador comum”. Este responsável deixa claro, contudo, que “não há nenhuma alternativa responsável ao ecumenismo: qualquer outra posição contradiz a nossa responsabilidade perante Deus e perante o mundo”. Já o secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), D. Giordano, explica que os principais temas desta iniciativa são “o encontro entre o Leste e o Ocidente; o impacto da secularização na Europa; a autocompreensão das Igrejas perante o escândalo da divisão dos cristãos”. “Por vezes, aquilo que chamamos Cristianismo na Europa é muito superficial, meramente cultural. Em Sibiu, testemunhamos uma dimensão mais profunda da nossa fé”, explica. Na mensagem que enviou aos participantres, Bento XVI afirmou que “a Europa precisa de lugares de encontro e experiências de unidade”, explicando que “o dever” dos cristãos europeus “é o de levar a voz de Deus ao Velho Continente”. “Pedimos a Deus a unidade e a paz para os europeus, para que nos demonstremos preparados a contribuir num verdadeiro progresso da sociedade na Europa”, acrescentou. Para o Papa, “a oração para a unidade dos cristãos representa um caminho primordial para o ecumenismo” e “ajuda a enfrentar com valor as dolorosas lembranças da história europeia e os problemas sociais na era do relativismo largamente predominante”. Na mensagem, Bento XVI reiterou que “a recomposição total e visível da unidade dos cristãos” é a sua prioridade e que a Igreja Católica se empenha de “maneira irreversível para percorrer a via do ecumenismo”. “Sabendo que nossas raízes comuns são mais profundas que as divisões, será possível romper uma falsa auto-suficiência e superar os elementos de afastamento”, disse. O Papa assegurou que a Assembleia de Sibiu “oferecerá importantes pontos para prosseguir e intensificar a vocação específica da Europa”. A cidade romena de Sibiu, no centro da Transilvânia, é a Capital Europeia da Cultura do ano 2007 e é, por estes dias, a “capital” de todos os cristãos da Europa. A III AEE foi convocada conjuntamente pela Conferência das Igrejas Europeias (KEK) e pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE). Metade dos delegados foi nomeada pelas 34 Conferências Episcopais católicas que fazem parte do CCEE; a outra metade representa as cerca de 120 igrejas membros da KEK, de tradição anglicana, ortodoxa e protestante. A Assembleia articula-se em sessões plenárias e em nove “fóruns” sobre temas específicos: unidade, espiritualidade, testemunho comum, integração europeia, diálogo inter-religioso, migrações, respeito da criação (ecologia) e justiça e paz, para além dos momentos de oração comum. Milhares de participantes das Igrejas e confissões cristãs da Europa, incluindo uma representação portuguesa, promovem até ao próximo dia 9 uma grande festa do ecumenismo, à volta do tema “A Luz de Cristo ilumina todos. Esperança de renovação e unidade na Europa”. A Igreja Católica do nosso país enviou a Sibiu uma delegação oficial de 15 pessoas, liderada por D. Manuel Felício, membro da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e Ecumenismo. Em declarações à Agência ECCLESIA, este responsável indica que os assuntos propostos para a III AAE, na Roménia, são muito “concretos e de uma grande actualidade”. Foto: CCEE-CEC/Ag. Siciliani

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