Cristãos com vida difícil no Médio Oriente

A vida dos cristãos é cada vez mais difícil no Médio Oriente, com uma quebra progressiva e acentuada em países como Israel, o Iraque, o Irão ou a Palestina. Esta situação esteve em destaque no colóquio intitulado “Liberdade Religiosa no Mundo: Direitos das comunidades e dignidade humana”, promovido hoje em Lisboa pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). Esta iniciativa visava, segundo os seus organizadores, promover o debate sobre a liberdade religiosa, de forma a “denunciar as situações dramáticas vividas actualmente pelas comunidades religiosas em algumas regiões, como o Médio Oriente, a Ásia ou a África Central”. Muitos cristãos estão a fugir do Médio Oriente e de alguns países asiáticos devido à discriminação social e económica, segundo o “Relatório 2006 sobre A Liberdade Religiosa no Mundo”, da AIS. O êxodo dos cristãos no Médio Oriente e nalguns países asiáticos deve-se, segundo o documento, à pressão e à discriminação social e económica das minorias cristãs em países onde o islamismo é considerado (constitucionalmente) religião oficial do Estado. No Irão, os católicos (baptizados) representavam 0,1% da população em 1973; hoje, são apenas uma ínfima percentagem (0,01%). No mesmo período, no vizinho Iraque, a presença cristã diminuiu em dois terços e na Palestina passou de cerca de 12% para 1%. “Atingidos também pela ameaça do terrorismo, os cristãos escolhem, em muitos casos, o caminho do exílio para o Ocidente. É o caso do Iraque e da Palestina, onde é elevado o risco de extinção das comunidades católicas de rito oriental”, refere o documento. Esta manhã, a convite da AIS, especialistas e representantes da Igreja Católica oferecem o seu testemunho sobre a perseguição e discriminação religiosa em países como o Iraque, o Paquistão ou na Terra Santa. Marie-Ange Siebrecht, directora do departamento do Médio Oriente da Ajuda à Igreja que Sofre, falou do drama que atinge as populações da Terra Santa, explicando que a situação é realmente preocupante, sobretudo por causa da muralha, “o muro da vergonha”, que separa totalmente os territórios palestinianos de Israel. Esta enorme muralha de betão foi erguida pelas autoridades israelitas com o pretexto de travar, desta forma, os atentados terroristas em Israel. A especialista explicou como os cristãos “são particularmente atingidos pela situação actual, porque não podem aceder aos locais de trabalho em Israel”. “Em localidades como Belém, praticamente não há peregrinos nem turistas, por causa da tensão que a região atravessa”, acrescentou. Esta responsável assegura que a situação piora “diariamente” e que os cristãos na Terra Santa, árabes, são largamente discriminados. Nesse sentido, pediu aos peregrinos católicos que se desloquem a locais como a Galileia, Nazaré, Jerusalém ou Belém que “visitem as comunidades locais de cristãos” e evitem considerar a Terra Santa como “um museu”. Sobre a situação no Iraque, Marie-Ange Siebrecht lembrou que os cristãos estão naquele territórios desde o início do Cristianismo, defendendo que “devemos ajudá-los a permanecer lá”. Os cristãos são particularmente afectados pela imagem de “amigos do Ocidente” e das forças ocupantes, logo considerados como “inimigos do Islão”. Paquistão D. Joseph Coutts, Bispo de Faisalabad, no Paquistão, veio até ao nosso país falar dos “desafios de viver numa sociedade islâmica”. Em declarações aos jornalistas, o Bispo lembrou que os cristãos têm liberdade religiosa, consagrada na Constituição, mas admitiu algumas dificuldades – visíveis no facto de alguns edifícios cristãos precisarem de “protecção policial”. Segundo o relatório da AIS, o ano de 2005 foi caracterizado por um dramático aumento dos ataques contra as minorias religiosas. “O pior instrumento da repressão religiosa é a lei sobre a blasfémia, que continua a fazer vítimas. Outro dos principais problemas diz respeito a material inserido pelos fundamentalistas em diversos livros escolares em Setembro de 2005, facto que provocou uma série de protestos dirigidos ao Governo central. Como denunciaram diversos responsáveis religiosos, «estes textos contribuem para fazer aumentar o ódio a respeito dos não-muçulmanos e a tolerância governamental a respeito deste fenómeno faz com que os autores destes ‘escritos de ódio’ se sintam em segurança»”, pode ler-se. O Bispo de Faisalabad fala em “discriminação” e “intolerância”, mas aponta o dedo a “alguns pregadores” e a pequenas faixas da população “com uma visão limitada”. “Queremos que os muçulmanos percebam que nós somos parte do país, não somos imigrantes nem viemos de fora. O Paquistão também pertence aos não-muçulmanos e nós temos desempenhado um papel muito positivo na educação e no campo da saúde”, assegura D. Coutts, também presidente da Cáritas Paquistão. O diálogo inter-religioso no contexto da globalização, num período dominado pelo receio do extremismo fundamentalista e do “choque das civilizações” foi outro dos temas tratados esta manhã. D. Willem de Smet, osb, Bispo Emérito do Líbano e Presidente Internacional Honorário da Ajuda à Igreja que Sofre, falou na necessidade de um diálogo de “vida comum” e alertou para a necessidade de os fiéis estarem cada vez mais atentos ao outro, mesmo quem não partilha a sua fé. Nesse sentido, este monge beneditino deu como exemplo o caso de um mosteiro na Itália cujo médico é um árabe, muçulmano, que gosta de passar muito tempo a conversar “sobre a transcendência de Deus no Islão e a imanência de Deus no Cristianismo”.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top