Crise exige participação dos jovens

D. Pio Alves alerta para consequências das dificuldades de acesso ao mundo do trabalho

Fátima, Santarém, 21 jun 2013 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais disse hoje em Fátima que o país deve saber envolver os jovens na “construção de novos rumos” para sair da crise em que se encontra.

“Não podemos substituir os jovens no imprescindível protagonismo que só eles podem assumir, caso contrário não faríamos mais do que prolongar uma infantilização que os diminuiria na sua dignidade e não os tornaria atores da sociedade nova que, entre todos, teremos de reinventar”, declarou D. Pio Alves, na abertura da 9.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, dedicada ao tema ‘Culturas Juvenis Emergentes’.

O bispo auxiliar do Porto alertou em particular para as consequências do desemprego e da crescente dificuldade de acesso a um trabalho “regular e remunerado” entre os mais novos, situações que levantam “interrogações de sentido, compreensivelmente difíceis de ultrapassar”.

“O acesso à realidade do trabalho, mormente para os jovens, é nas atuais circunstâncias uma tarefa de tal modo árdua e sempre tão imprescindível que não se compadece com a fuga para o mundo das acusações”, advertiu o responsável.

Admitindo que “interessa certamente encontrar as causas para mais facilmente remediar as consequências”, D. Pio Alves declarou que “o que não faz sentido, ou pelo menos não concorre para uma verdadeira reconstrução da esperança, é entrar na gritaria pela gritaria, na acusação pela acusação, deixando de fora os imprescindíveis protagonistas da solução, que neste caso são os jovens, cada um dos jovens”.

“Deixá-los de fora só servirá para prolongar um estilo de educação que marcou muitos de toda uma geração”, em que os pais quiseram dar aos filhos “tudo o que não tinham tido”, acrescentou.

Segundo o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, muitos jovens cresceram num “educação familiar onde, com a melhor das intenções, estiveram ausentes os ‘nãos’ e foram aplanadas as montanhas das dificuldades”.

No mundo da escola, prosseguiu, houve “uma pedagogia que afinou demasiadas vezes por idêntico diapasão”, desvalorizando o “esforço”, que chegou a ser confundido com um “potencial elemento traumatizante”.

“A aprendizagem assumiu contornos lúdicos que disfarçaram a normal necessidade de trabalhos”, precisou o bispo auxiliar do Porto.

Para este responsável, é fundamental “não abandonar os jovens à sua sorte”.

“Nós, mais adultos, família e escola, demos o nosso contributo às marcas de uma formação que não é certamente a mais adequada para enfrentar os tremendos desafios de uma sociedade que entretanto se desregulou, baralho, faliu”, alertou.

Entre os intervenientes na jornada promovida pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura está o sociólogo José Machado Pais, investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais de Universidade de Lisboa.

O encontro, dividido em conferências, mesas-redondas e momentos artísticos, conta também com o sacerdote jesuíta José Frazão, o cantor e compositor Manuel Fúria, a atriz Inês Nogueira e o ator Miguel Loureiro.

Na abertura da jornada foi entregue, pela nona vez, o ‘Prémio de Cultura Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes’, desta feita a Roberto Carneiro, antigo ministro da Educação.

PR/OC

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