Crise Climática: «Os dirigentes políticos não estão a ser suficientemente ambiciosos e a dar os passos que são necessários» – Diretora executiva do Movimento Laudato Si’

Susana Réfega propõe mudanças de comportamentos no quotidiano, fala sobre eventos climáticos de grande dimensão e explica iniciativa Semana Laudato Si’

Foto: Lusa

Lisboa, 20 mai 2024 (Ecclesia) – A diretora executiva do Movimento Laudato Si’ (MLS), Susana Réfega, condenou, em entrevista ao Programa ECCLESIA, a falta de ação dos governos face à crise climática.

“Eu acho que sentimos uma grande impaciência, porque de facto a crise climática é por demais evidente, está presente nas nossas vidas, e sentimos que os dirigentes políticos não estão a ser suficientemente ambiciosos e a dar os passos que são necessários”, afirmou.

A responsável evoca a exortação apostólica Laudate Deum, escrita pelo Papa Francisco, como “um texto esplêndido” que cumpre a “função de demonstrar, de chamar os dirigentes políticos e económicos a serem corajosos, a não terem medo”.

“E por isso sentimos essa impaciência face às cimeiras, face a todas estas reuniões que têm dado passos, mas sempre passos que estão aquém daquilo que é necessário”, refere.

“A questão dos combustíveis fósseis é central”, sublinha a responsável, mencionando que tem havido muito investimento na sua “adaptação”, no entanto este é um tema que implica uma “mudança sistémica”.

“O movimento Laudato Si’ tem vindo a apostar muito na questão de olharmos mesmo para outras soluções para os combustíveis fósseis, fazemos parte de um coletivo que defende um tratado de não proliferação de novos investimentos em combustíveis fósseis, porque se por um lado podemos adaptar, também temos que mitigar na raiz o problema dos combustíveis fósseis, e acreditamos que tecnicamente é possível fazê-lo, sendo dados passos concretos”, salientou.

Questionada sobre a tragédia no estado brasileiro do Rio Grande do Sul, afetado por cheias causadas pelas chuvas desde o final de abril, causando a morte a mais de uma centena de pessoas, Susana Réfega conta que o Movimento Laudato Si’ tem estado a acompanhar a de “muito perto” a situação.

“Há uma inquietação muito grande, porque de facto impacta na vida das pessoas de uma forma enorme, mais uma vez aqui a questão do grito dos pobres é muito importante, porque a crise climática é uma crise que toca nas pessoas, que toca no ambiente, que toca no nosso planeta de uma forma global, e por isso o que está a passar no Brasil é mais um desses exemplos, e tem-se desenvolvido uma série de cadeias de solidariedade também para apoiar”, indicou.

A responsável lamenta que estas sejam crises “esquecidas” após se perder o foco mediático e frisa que o trabalho que o MLS tem vindo a desenvolver para sensibilizar, aprofundar a reflexão e a ação visa precisamente não deixar esquecer o “cuidado da casa comum”, porque “tem implicações em todas as áreas”.

A par das necessidades de mudanças políticas face à crise climática, o Movimento Laudato Si’ propõe no dia a dia “ações muito concretas de mudanças de estilo de vida”.

“Quando nós fazemos medidas concretas na nossa vida, sentimos também mobilizados cada vez a um compromisso maior. Também nos gera esperança, que acho que também, como dizíamos há pouco, entre a impaciência e a frustração, o mudarmos nas nossas famílias, nas nossas casas, nas nossas paróquias, mobiliza-nos e gera-nos também esperança que é possível fazer essa mudança”, destacou.

De 19 a 26 de maio decorre a Semana Laudato Si’, com o lema “Sementes da esperança”, comemorando o 9ºaniversário da publicação da encíclica, com propostas para cada dia, nomeadamente uma maratona fotográfica em todo o país, uma celebração ecuménica em Lisboa, um encontro no Parque da Bela Vista, um webinar e um conjunto de interrogações e desafios práticos.

“Cada dia desta semana, temos as tais propostas concretas, que não são propostas remotas, são propostas que cada um pode aplicar. Temos um guião que ajuda precisamente a refletir, a fazer ações que se prendem, por exemplo, com a alimentação e com a redução de produtos de origem animal”, explicou Susana Réfega.

No contexto desta semana é também apresentado um estudo conduzido por várias universidades, incluindo a Universidade Católica Portuguesa, que procurou saber ao longo de nove anos como é que como é que a Igreja na Europa deu resposta à encíclica Laudato Si’, registando uma “fotografia de que respostas foram encontradas em 20 países da Europa”.

“É um estudo que, por um lado, nos dá muita esperança, porque verificamos uma diversidade de respostas a todos os níveis, dioceses, universidades, comunidades locais, e percebemos também que mais de 50% dos inquiridos não tinham qualquer tipo de ação desta área antes da encíclica. Portanto, a encíclica foi, de facto, detonadora, no bom sentido, de uma explosão, também no bom sentido, dessas ações”, afirmou Susana Réfega.

A Semana Laudato Si’ esteve em destaque no Programa ECCLESIA transmitido esta segunda-feira, na RTP2, pouco depois das 15h.

PR/LJ

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