Crédito fácil tornou-se uma «perigosa armadilha»

Guilherme d’ Oliveira Martins lamentou que «idolatria do mercado» e «economias de casino» tenham tomado o lugar da «criação, trabalho e esforço»

Porto, 24 nov 2012 (Ecclesia) – O presidente do Tribunal de Contas lamentou hoje, no Porto, durante a Semana Social, que a “idolatria do mercado” e as “economias de casino” tivessem tomado o lugar da “criação, trabalho e esforço”.

Na conferência sobre «A Reforma do Estado Social e a Doutrina Social da Igreja», Guilherme d’ Oliveira Martins sublinhou que a circulação do “capital financeiro” gerou a ideia de que a “afluência de dinheiro, mesmo ilusória, poderia ser confundida com a geração de riqueza duradoura”.

Nesta iniciativa com o tema «Estado Social e Sociedade Solidária» – congrega mais de 300 participantes – a decorrer na cidade portuense (Casa de Vilar), até domingo, o presidente do Tribunal de Contas alertou que a Doutrina Social da Igreja (DSI), mais do que um “conjunto de princípios”, ela é um “pôr em prática, um apelo permanente ao inconformismo e à realização de uma sociedade assente no bem comum e na dignidade das pessoas”.

No entanto – reconheceu o orador – o “crédito fácil tornou-se uma perigosa armadilha, em que muitos caíram, julgando que o dinheiro barato era um adquirido definitivamente”.

Para Guilherme d´ Oliveira Martins, falar de um “sentido ético” da economia é, no fundo, “pô-la ao serviço das pessoas e compreender que o respeito mútuo e a salvaguarda da liberdade, da igualdade e da solidariedade” são essenciais para “defender um sentido pessoal e comunitário da vida”.

Em relação à democracia, o presidente do Tribunal de Contas apela ao aperfeiçoamento desta “para poder constituir-se em fator de humanização da sociedade, pondo a verdade e a justiça no centro da política, baseada na cidadania ativa, na legitimidade do voto e do exercício”.

O Estado social moderno – pediu o conferencista – deve corresponder a “uma nova gramática do humano, não devendo fragilizar-se, mas fortalecer-se” através de uma “avaliação muito rigorosa entre o que é pedido ao cidadão contribuinte e o que é recebido pelas pessoas por parte do serviço público”.

Sem esquecer a “disciplina e o rigor financeiro”, Guilherme d´ Oliveira Martins realça que através dos “estudos sérios” sobre a realidade se pode concluir “que os défices do Estado não podem ser imputados aos gastos sociais (educação, saúde e segurança social)”.

As semanas sociais são promovidas de três em três anos pela Conferência Episcopal Portuguesa, com a coordenação de um grupo presidido por Guilherme d’ Oliveira Martins, e composto, entre outros por Alfredo Bruto da Costa, Eugénio Fonseca, padre José Manuel Pereira de Almeida e Joaquim Azevedo.

LFS

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