Padre Alexandre Palma, professor da Universidade Católica, diz que as 14 estações são uma «grande metáfora» da condição humana, ao longo dos séculos
Lisboa, 10 abr 2020 (Ecclesia) – O padre Alexandre Palma, professor de Teologia na Universidade Católica Portuguesa (UCP), redigiu este ano uma Via-Sacra ligada à pandemia de Covid-19, associando o sofrimento de Jesus aos que são afetados pela doença.
“A Via-Sacra normalmente é lida como um esforço meritório, da nossa parte, de nos colocarmos nos passos de Jesus, é isso que fazemos normalmente. Aqui a intuição é a mesma, mas vista de outro ângulo: pensar Jesus, ver Jesus, falar de Jesus percorrendo, também, os nossos passos da hora presente”, refere o autor, em entrevista à Agência ECCLESIA.
A ideia partiu do atual momento de quarentena, que para muitos católicos coincidiu com a Quaresma, o tempo de preparação para a Páscoa.
“Chegados à Semana Santa, permite-se uma leitura entre a história de Jesus, do seu passado, em certo sentido, todos os passos que conduziram à sua morte e depois à sua ressurreição, e a nossa história presente”, acrescenta o sacerdote.
A Via-Sacra – o ciclo tradicional de 14 estações relativas aos momentos da prisão, julgamento e condenação à morte de Jesus Cristo – tem sempre, segundo o teólogo, uma “leitura histórica”, reportando-se ao que aconteceu “efetivamente”.
Esse primeiro nível de leitura admite “níveis sucessivos”, que se prendem com o facto de “a história do caminho sagrado de Jesus até à Cruz e até ao Pai, que é a meta final, torna-se uma grande metáfora, uma grande parábola”, não apenas da história do próprio Jesus, mas da “história de toda a condição humana, em todas as geografias e todos os tempos”.
Uma narrativa que tem uma força que ultrapassa as circunstâncias históricas, que lhe permite falar “a cada homem, a cada lugar e a cada tempo”.
“O caminho de Jesus é, de forma simbólica, o caminho de todos nós”, insiste o padre Alexandre Palma.
O docente universitário procurou colocar em texto “a visita que Cristo faz” às dores da humanidade, associando-as às suas próprias dores, com esperança de que esta outra perspetiva possa ser “consolo” para todos os que vivem este tempo com angústia, ansiedade ou até tocados pela própria doença.
“O que nos vai salvar de todas as pandemias é sempre o amor”, acrescenta.
O autor admite que se serviu mais da experiência “com doentes de outras patologias” para a reflexão sobre a Covid-19.
“Esta é a história deste tempo, mas, em certo sentido, a Via-Sacra de Jesus é a história de todos os tempos, portanto, de todas as doenças e todos os sofrimentos”, precisa.
A ‘Via-Sacra da Pandemia’ foi publicada na mais recente edição do Semanário ‘Expresso’.
HM/OC
Primeira estação: Jesus tem sintomas
Segunda estação: Jesus informa os amigos e colegas de trabalho Terceira estação: Jesus liga uma primeira vez para a linha telefónica de apoio Quarta estação: Jesus isola-se de sua Mãe Quinta estação: Jesus é ajudado pelo cireneu a fazer compras no supermercado Sexta estação: Jesus liga uma segunda vez para a linha telefónica… Sétima estação: Verónica põe a máscara respiratória a Jesus Oitava estação: Jesus espera ser atendido num hospital de campanha Nona estação: Jesus desinfeta as suas vestes Décima estação: Jesus faz (finalmente) o teste Décima primeira estação: Jesus é internado num pavilhão polidesportivo Décima segunda estação: Jesus não foi contado nas estatísticas oficiais Décima terceira estação: Jesus, por fim, “expirou” Décima quarta estação: Jesus é sepultado. |