Covid-19: Sacerdotes partilham experiências de confinamento por causa da doença

Padres Miguel Coelho e Martinho Mendonça admitem receio inicial e falam em oportunidade de reflexão e oração

Padre Miguel Coelho
Foto: Agência ECCLESIA/LFS

Alcains, 23 fev 2021 (Ecclesia) – Dois dos padres da Diocese de Portalegre-Castelo Branco que tiveram Covid-19 relataram à Agência ECCLESIA a sua experiência de confinamento forçado, na qual fizeream uma “revisão de vida”, apesar do medo inicial.

“Estive isolado durante 25 dias e, apesar da apreensão e do medo inicial, deu para fazer uma revisão de vida e colocar a conversa em dia com Deus”, disse o padre Miguel Coelho, pároco da zona pastoral de Alcains.

Este sacerdote foi o primeiro da comunidade de padres que vive no Seminário de São José de Alcains a ter sintomas e alertou os restantes membros que estava “sem olfato e sem paladar”.

O caso não era único e outros elementos da comunidade testaram também positivo à Covid-19.

O padre Martinho Mendonça, pároco da zona raiana de Idanha-a-Nova, também contraiu o vírus e disse à Agência ECCLESIA aquele período de confinamento foi vivido “praticamente no quarto”.

Todos os padres que vivem naquela comunidade tiveram Covid-19, o que facilitou o confinamento, mas “tomávamos as refeições no quarto”.

Ao nível de sintomas, o padre Martinho Mendonça teve “febre durante oito dias”, mas nunca necessitou de ser internado.

A zona pastoral de Alcains tem dez paróquias e, administrativamente, é liderada pelo padre Miguel Coelho.

“Como é um trabalho que ocupa muito tempo”, este sacerdote aproveitou aquelas três semanas para refletir “acerca de mim, dos outros e da Igreja”.

O pároco da zona raiana de Idanha-a-Nova ocupou o seu tempo com “mais leitura” e pondo “em dia trabalhos paroquiais mais atrasados”.

Padre Martinho Mendonça
Foto: Agência ECCLESIA/LFS

Com mais descanso e “mais oração”, o padre Martinho Mendonça sublinhou que foi “quase um retiro espiritual”, onde teve tempo para ir “ao deserto e encontrar-se consigo e com a realidade”.

Na fragilidade da vida, as pessoas sentem que “não estão sozinhas” e têm “uma oportunidade de encontro com Deus”, acrescentou aquele sacerdote.

Durante aquele período de ausência nas paróquias de Alcains, o telemóvel do padre Miguel Coelho “não descansou um minuto”.

“A toda a hora tinha pessoas a ligar para saberem notícias sobre os padres da casa”.

Este sacerdote guarda aqueles momentos “gratificantes” porque “nunca se sentiu abandonado nem sozinho”.

Os telefonemas entre o padre Martinho Mendonça e as comunidades raianas de Idanha-a-Nova também eram frequentes.

Os paroquianos diziam que sentiam “muito a necessidade” da sua presença e tinham “saudades das celebrações”.

Momentos de “ausência sentida” com “saudade mútua”, recordou.

Um “período inédito” na vida deste sacerdote que deixou marcas em si na comunidade, todavia “acredito que tudo vai ficar bom, mas não vai ficar tudo igual”, afirmou o padre Martinho.

“Há o perigo das pessoas se habituarem a um certo estilo e forma de estar e isso pode dificultar a normalização das nossas relações”, acentuou.

O digital entrou nas rotinas das pessoas, mas “não é a mesma coisa que o lado presencial”, realçou o padre Martinho Mendonça.

Passados três meses após o contágio pela Covid-19, o padre Miguel Coelho ainda não readquiriu “o olfato, nem o paladar” e sente que se cansa “com mais facilidade”.

LFS/OC

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