Covid-19: «Prioritários são os mais frágeis» – presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses

José Diogo Ferreira Martins sublinha impacto da pandemia e aponta para risco de «empurrar» doentes para a eutanásia, sem aposta nos cuidados paliativos

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 06 dez 2020 (Ecclesia) – José Diogo Ferreira Martins, novo da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP), defendeu que a prioridade no combate à pandemia devem ser “os mais frágeis”, sublinhando em particular a questão da distribuição das vacinas.

“Nós não podemos deixar de dizer que entendemos que os prioritários são os mais frágeis”, assinala o médico, na entrevista conjunta à Renascença e Ecclesia que é emitida e publicada semanalmente aos domingos.

O Governo anunciou na última semana que as vacinas contra a Covid-19 vão começar a ser administradas a partir de janeiro, sendo os grupos prioritários as pessoas com mais de 50 anos com patologias associadas, residentes e trabalhadores em lares, e profissionais de saúde e de serviços essenciais.

O presidente da AMCP destaca a necessidade de atender à “a taxa de letalidade”, que é cerca de 14%, nas pessoas com mais de 80 anos.

Francisco Ramos, coordenador do grupo que preparou o plano de vacinação, adiantou esta quinta-feira que, numa segunda fase, a prioridade será para pessoas com mais de 65 anos sem patologias associadas, e pessoas com mais de 50 anos, mas com um leque mais alargado de patologias associadas, como a diabetes.

Para José Diogo Ferreira Martins, a pandemia mostrou a situação de particular fragilidade dos idosos, “especialmente os que vivem nos lares, mas também aqueles que vivem sozinhos, sem uma família que os possa acompanhar”.

“A Covid é, efetivamente, um desafio enorme, que veio pôr a descoberto uma necessidade enorme de convertermos o olhar do coração”, acrescentou.

Olharmos cada vez mais para cada uma daquelas pessoas como alguém que precisa de ser cuidado, pela sua fragilidade. Isto tem de nos desinstalar, como profissionais de saúde; como médicos, não podemos deixar-nos enredar nos números, na desumanização, nas pessoas que são tratadas sem ser do modo como querem ser tratadas”.

O presidente da AMCP questiona os projetos de legalização da eutanásia, lamentando que falte uma aposta nos cuidados paliativos, com soluções que enfrentem também os desafios da “dor emocional, da solidão, da falta de propósito para este fim de vida”.

“A partir do momento em que nós damos às pessoas a opção de morrer, a pedido, e sob ação direta dos médicos, sem terem um cuidado de saúde claro e bom até ao fim da sua vida, ao não dar a opção dos cuidados paliativos, de algum modo, involuntário, admito, estamos – e temos de perceber que estamos – a empurrar as pessoas para a solução da eutanásia”, refere.

O médico cardiologista diz que, num eventual cenário de escassez de recursos médicos, é preciso determinar “protocolos rígidos e que não dependam de emoções do momento, e que não dependam de aleatoriedade ou de discricionariedade ou de proveniências étnicas, de limitações económicas, de pressões políticas ou outra”.

O presidente da AMCP fala ainda de relatos de falta de assistência espiritual a pessoas que acabam por morrer em ambiente hospitalar, questionando ainda a falta de tempo para “olhar para as pessoas”.

Este responsável diz que a associação está “completamente ao serviço da conferência episcopal” e quer dialogar com outras organizações de profissionais católicos.

José Diogo Ferreira Martins considera “um mistério” que em 30 mil médicos em Portugal, apenas 700 sejam sócios da AMCP.

“Sabemos que há muita gente lá fora que seguramente gostará e beneficiará de ser sócio da nossa associação”, conclui.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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Agência ECCLESIA

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