Covid-19: Paróquias da Vigararia de Paços de Ferreira mantêm-se perto da população

Sacerdotes recebem mais pedidos de apoio e estão também preocupados com a ausência de luto e de rituais, por causa das limitações da pandemia

Foto: C. M. Paços de Ferreira

Paços de Ferreira, 05 nov 2020 (Ecclesia) – O responsável pela Vigararia de Paços de Ferreira, na Diocese do Porto, afirmou que as paróquias locais estão a acompanhar mais a população na pandemia de Covid-19.

“Estamos aqui, não fechamos as portas, não fechamos as paróquias, os centros sociais continuam a funcionar”, disse hoje o padre Manuel Luís de Brito, em declarações à Agência ECCLESIA.

O sacerdote explicou que16 paróquias têm 12 instituições ligadas à Igreja e “existem nove centros sociais e paroquiais”, que apoiam “uma percentagem muito razoável dos idosos do concelho”.

“Os idosos são a população mais vulnerável, de risco, temos apoio domiciliário a funcionar, os centros de dias os serviços estão a ser domiciliados, e tem aparecido mais solicitações no âmbito social, de ajuda, sobretudo pessoas que estão infetadas em casa e que não têm retaguarda”, acrescentou.

Foto: Exército Português

Na Santa Casa da Misericórdia de Paços de Ferreira, a Estrutura Residencial para Idosos (ERPI), que tem 58 utentes revelou que contam com 60 casos positivos de Covid-19, entre 46 utentes e 13 funcionários, e as instalações já foram descontaminadas pelo exército, segundo comunicado da instituição.

O capelão da instituição, o padre José Augusto Ferreira, que por causa das medidas de segurança não tem ido celebrar a Eucaristia de quarta-feira à Misericórdia, conta que procura “não desacompanhar” os utentes e “deixar sempre uma palavra de ânimo e esperança”, para além de estar disponível e “rezar por eles”, mantendo o contacto com os responsáveis pela Santa Casa.

Esta quarta-feira,  entrou em vigor o confinamento parcial em 121 concelhos de Portugal continental onde há “risco elevado de transmissão da Covid-19”, aplicando-se o dever de permanência em casa, exceto para deslocações autorizadas.

Os concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira começaram a viver estas limitações quase uma semana antes, de 22 a 29 de outubro, segundo resolução do Conselho de Ministros por registarem um maior número de casos de infeção.

“As pessoas acataram essa indicação, notava-se muito menos movimento na rua, menos pessoas nas celebrações logo nesse fim de semana, sentimos isso”, acrescenta o vigário, adiantando que no concelho “houve um reforço da testagem, há vários centros de testes, e há esse cuidado das autoridades de saúde e da câmara municipal.

O sacerdote frisa que “há menos movimentos nas ruas” e as pessoas estão “a proteger-se mais”, enquanto nas igrejas mantêm “as celebrações” e reforçam “todos os cuidados sanitários para as que as celebrações possam decorrer em segurança.

Nestes últimos dias as informações que temos é que a taxa de infeção diminuiu em cerca de 20%, de maneira que vamos vivendo este momento com cuidado redobrados”.

Segundo o padre Manuel Luís de Brito o “foco tem estado sobretudo no apoio social” mas também nas celebrações, “dando esperança, dando ânimo às pessoas, algum conforto espiritual”.

Este sacerdote, que é pároco de Freamunde e Raimonda, no concelho de Paços de Ferreira, conta que as questões do luto, dos funerais, é o que “tem sido mais problemático” por que as pessoas “não tem podido exprimir os seus sentimentos como gostariam”, e há “uma aprendizagem da vivência do luto” que estão a tentar fazer.

Foto: C. M. Paços de Ferreira

“Ainda hoje fiz dois funerais Covid e é constrangedor, as pessoas não podem fazer aquilo que faziam, precisamos também de rituais para nos humanizar e estão muito limitados. As despedidas nem sempre são as que gostariam que fossem”, desenvolveu o padre Manuel Luís de Brito, sublinhando que existem “novas formas de fazer o luto” que também o preocupam.

Já para o padre José Augusto Ferreira o luto das pessoas é também “uma questão mais pertinente” nesta pandemia porque “tem falecido imensa gente” e as celebrações são com duas, três pessoas e não sabem “onde estão as outras, possivelmente em casa a chorar, e sem se conseguirem despedir, usufruir do conforto e do carinho espiritual”.

“O que mais me preocupa continua a ser este silêncio ferido de quem perde os seus e da necessidade de nos reinventarmos para podermos estar com aqueles que sofrem e choram. E não é só por questões de segurança, é mesmo de saúde. Metade da família está contaminada e não aparecem, viram o seu familiar quando saiu de casa para o hospital e não voltam a ver, quando regressa ao cemitério já vem fechado com dois sacos”, desenvolveu o pároco de Lamoso, Meixomil, Paços de Ferreira e Penamaior.

O padre José Augusto Ferreira sublinha que esta situação é “mais dramática até propriamente do que o culto dominical” porque esse vai acontecendo mesmo com “muito menos gente”.

Neste contexto, lembra que pela ‘comemoração de todos os fiéis defuntos’ procurou distribuir uma vela com uma oração pelos fiéis “para rezarem pelos defuntos”, “não podendo ir ao cemitério, não podendo ir à Eucaristia”, e “a comunidade toda envolveu-se no mesmo sentido cada um em sua casa”.

Foto: C. M. Paços de Ferreira

O pároco de Lamoso, Meixomil, Paços de Ferreira e Penamaior foi também “sozinho aos cemitérios deixar uma vela em cada um” e convidou as pessoas que fizessem a oração “não só no dia dos fiéis mas o mês todo de novembro, o mês das almas”.

No âmbito das orientações específicas para os concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira, o bispo do Porto emitiu uma nota orientadora a 22 de outubro para essas vigararias determinando o adiamento de celebrações comunitárias de Crismas, Comunhões e Profissões de Fé, até final de novembro, e pediu aos membros do clero que “privilegiem uma função pedagógica e educadora”.

“Como líderes espirituais das nossas comunidades temos sempre essa função e a própria Igreja tem aqui uma função muito importante de ser um sinal e de ser pedagógica nestas questões e alertando as pessoas para os riscos que correm, nomeadamente nos convívios familiares”, acrescentou o vigário de Paços de Ferreira.

O padre Manuel Luís de Brito salienta que têm feito “essa pedagogia” e exemplifica que nos Fiéis Defuntos alertaram “para não haver uma aglomeração nos cemitérios mas uma passagem mais breve, que se pode fazer ao longo do mês de novembro, que é o mês das almas”.

Neste contexto, o padre José Augusto Ferreira acrescenta que nas celebrações as orientações e acolhimento das equipas “é sempre feito do ponto de vista pedagógico dizendo que devem fazer o mesmo nos locais públicos”, sobretudo as pessoas mais idosos que “têm mais alguma dificuldade” num acompanhamento “quase pessoal de como colocar a máscara, explicação que acontece à porta da Igreja com cada um”.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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