Francisco pede que empresários evitem despedimentos, em entrevista a canal espanhol
Cidade do Vaticano, 23 mar 2020 (Ecclesia) – O Papa recordou hoje no Vaticano as pessoas que passam por dificuldades económicas, por causa dos efeitos da pandemia do Covid-19.
“Rezemos hoje pelas pessoas que, por causa da pandemia, começam a ter problemas económicos, porque não podem trabalhar e tudo isso incide sobre a família. Rezemos pelas pessoas que têm este problema”, disse, antes da Missa a que presidiu na Capela da Casa de Santa Marta.
Este domingo, em entrevista à televisão espanhola ‘La Sexta’ o Papa Francisco sustentou que o despedimento de trabalhadores “não é solução” para salvar as empresas das dificuldades causadas pelo novo coronavírus.
“Uma empresa que despede para se salvar, isso não é solução”, realçou, considerando que além dos empresários, é preciso pensar nas “dificuldades por que vão passar o empregado, o trabalhador, a empregada, a trabalhadora” que forem despedidos.
A solução concreta, em cada situação, tem de ser procurada por cada pessoa. Mas é certo que o ‘salve-se quem puder’ não é solução”.
O Papa, que falava por videoconferência, sustentou que “mais do que despedir, há que acolher e fazer sentir que há uma sociedade solidária”.
Francisco manifestou a sua admiração pelos cientistas e profissionais de saúde que trabalham em prol das pessoas contagiadas pela covid-19, qualificando-os como “os santos da porta do lado”, dada a sua capacidade de arriscar a vida pelo próximo.
“Agradeço-lhes pelo seu testemunho”, declarou.
O Papa disse que procura trabalhar “normalmente”, apesar de não receber grupos, e confessou-se impressionado com a atual situação de confinamento, que transformou a Praça de São Pedro num “deserto”.
Francisco fala num momento em que todos estão “presos”, considerando simbólico que as reflexões para a Via-Sacra de Sexta-feira Santa, em 2020, tenham sido redigido por reclusos de uma cadeia italiana.
“É preciso ter sempre uma janela aberta”, pediu.
A entrevista aborda o problema da “solidão” e fala numa sociedade “inconsciente” relativamente a um “submundo de humanidade”, visível nos sem-abrigo, na exploração sexual das mulheres.
“Começamos a estar perto dessas pessoas que conhecemos como abstração”, apontou.
“Temos de resgatar a convivência e este talvez seja um dos efeitos desta tragédia, muito triste”, disse ainda.
Eu tenho esperança na humanidade, tenho esperança nos homens e mulheres desta humanidade, tenho esperança nos povos. Tenho muita esperança, nas populações que vão tirar ensinamentos desta crise para rever a sua vida. Vamos sair dela melhores; menos, claro, porque muitos ficam pelo caminho e é duro, mas tenho fé: vamos ficar melhor”.
Na Missa desta manhã, cerimónia que é transmitida online há duas semanas, Francisco convidou os católicos a rezar com “fé, perseverança e coragem”, sobretudo neste período de incerteza.
“Nestes dias em que é necessário rezar, rezar mais, pensemos se nós rezamos assim: com fé de que o Senhor pode intervir, com perseverança e com coragem. O Senhor não desilude, não desilude. Faz-nos esperar, leva o seu tempo, mas não desilude. Fé, perseverança e coragem”, insistiu.
A Eucaristia concluiu-se com a adoração e a bênção eucarística, tendo o Papa renova o seu apelo à Comunhão espiritual, por parte de quem se encontra em casa, impossibilitado de participar em celebrações comunitárias da Missa.
Na próxima sexta-feira, Francisco vai conceder uma bênção ‘urbi et orbi’ extraordinária, com possibilidade de indulgência plenária, conforme estabelecido por decreto da Penitenciária Apostólica (Santa Sé).
OC