Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa aborda desafios pastorais, sublinhando necessidade de maior proximidade e de nova valorização dos idosos
Setúbal, 22 jan 2021 (Ecclesia) – D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), disse à Agência ECCLESIA que a pandemia de Covid-19 veio “mostrar as deficiências da sociedade e da Igreja” e confessa a falta da proximidade e dos afetos.
“Esta epidemia veio mostrar deficiências que estão na sociedade e também na Igreja, de comunicação, de relacionamento, a necessidade de algo de mais comunicativo e próximo das pessoas, de uma Igreja que respire com todas as suas capacidades das diversas categorias de pessoas que a compõem”, refere o bispo de Setúbal.
D. José Ornelas admite que a “Igreja sairá provada mas também mais resiliente” e que estes períodos de crise levam sempre a “redimensionar sempre a vida”.
A reflexão “Desafios pastorais da pandemia à Igreja em Portugal”, divulgada a 1 de janeiro de 2021, é apontada pelo presidente da CEP como ajuda a um “processo que se vai fazendo e vai levar mais tempo do que se pensava”.
Descobrimos coisas que passavam despercebidas, como, por exemplo, problemas graves de gente que deixou de ter de comer, a quem é preciso acudir. A Igreja tem um papel importante, deve ser uma instituição que abre os braços para ajudar a integrar os migrantes, para ser agente de integração dentro da sociedade e da humanidade”.
O documento aponta 53 pontos para responder aos desafios pastorais da pandemia e D. José Ornelas destacou o ponto da resposta sanitária, destacando “o apreço que tem pelo Serviço Nacional de Saúde, como instituição e todos os que lá trabalham, dando o seu melhor”.
O bispo de Setúbal destaca o impacto, por causa da pandemia, da privação de exéquias fúnebres e as mudanças no luto.
“É um campo pastoral que, nesta fase, é das mágoas maiores que tenho, como bispo mas também humanamente; veja-se o exemplo dos lares, em que o próprio padre tem dificuldade tantas vezes por precaução de entrar nos lares, de estar presente”, admite.
D. José Ornelas afirma que esta é uma situação que lhe “dói muito”, porque são espaços onde as pessoas precisam “de mais apoio, do ponto de vista religioso mas também psicológico, da família e afetos”.
Para o responsável católico, é necessário repensar que o objetivo dos lares, que não podem ser “depósito de pessoas”.
O bispo de Setúbal disse ainda que a pandemia trouxe à tona o “drama de muitas famílias que não funcionam”, seja pelos desencontros, pela violência doméstica ou abusos, “um problema sério em todo o mundo”.
Na área social o presidente da CEP destaca o papel dos leigos, “de ajuda fraterna” nas instituições oficiais ou IPSS, centros paroquiais ou centro de apoios ao carenciados e Cáritas.
“Não quer dizer que o bispo ou o padre deixam de ter lugar, mas a importância dentro da Igreja não se mede pelos papeis que desempenham”, aponta.
D. José Ornelas relatou ainda que, ao encontrar pessoas depois de estarem no hospital, lhe dizem que “fazem outras contas à vida”.
Os desafios pastorais da pandemia à Igreja em Portugal abordados pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) vão estar em destaque este domingo, no programa 70×7, na RTP 2 pelas 16h55.
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