Especialistas abordam perspetivas de superação da crise, ligadas ao meio ambiente
Lisboa, 25 jul 2020 (Ecclesia) – Victor Jorge, presidente da direção da Associação Portuguesa de Saúde, Higiene e de Segurança no Trabalho para o Desenvolvimento e Cooperação Internacional (APSHSTDC), disse à Agência ECCLESIA que a pandemia obriga a repensar modelos económicos.
“É um tempo novo para novas relações económicas”, assinala o responsável da ONGD, coautor do livro ‘Ressurgir – 40 perguntas sobre a pandemia’, publicado pela Paulinas Editora.
O entrevistado destaca as preocupações que já existiam “em matéria de desigualdades, de relações laborais, do trabalho digno, do crescimento económico”, que se podem vir a agravar com uma nova crise.
“Estamos obrigados a equacionar um novo modelo da sociedade em que queremos viver”, sustenta.
Para Victor Jorge, é preciso assumir o caminho definido com Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
“Neste momento, as desigualdades agravaram-se, substancialmente, de acordo com os últimos indicadores das Nações Unidas, nomeadamente da Organização Internacional do Trabalho”, aponta.
O presidente da direção da APSHSTDC espera que o fundo de recuperação aprovado pelo Conselho Europeu possa servir “um novo modelo de Economia”, que também decorre do Acordo de Paris (2015).
Em causa, acrescenta, está ainda a alteração do consumo e a gestão mais responsável dos recursos, para “mudar o paradigma”, rejeitando o “usar e deitar fora”.
Já o capitão-tenente da Marinha e investigador da Universidade Nova de Lisboa, o comandante Joaquim Afonso, sublinha à Agência ECCLESIA a importância de uma Economia do Mar, capaz de ver além da “praia” e do turismo, valorizando o “triângulo estratégico” de Portugal continental e as regiões autónomas da Madeira e dos Açores
“O nosso futuro passa pelo mar, sempre”, aponta.
O especialista sublinha que Portugal tem uma área marítima “muitíssimo maior do que a área continental”, com responsabilidade direta em “cerca de metade do Atlântico Norte”
Para o comandante Joaquim Afonso, falta uma “visão estratégica”, com planeamento de “médio e longo prazo” que sirva como objetivo comum para o país.
As prioridades devem passar, segundo o entrevistado por “reativar a pesca, de forma sustentável, e a construção naval”, realçando que “um país não pode ter apenas serviços”, pelo que a componente industrial, comercial e agrícola exigem uma conjugação, numa visão “equilibrada”
“O desenvolvimento sustentável é perfeitamente viável e até mais rentável, do ponto de vista económico, do que um desenvolvimento predador”, que destrói ecossistemas, conclui o investigador da Universidade Nova de Lisboa.
Ao longo das últimas duas semanas, o programa Ecclesia na Antena 1 da rádio pública entrevistou vários autores do livro ‘Ressurgir – 40 perguntas sobre a pandemia’, que refletem diversas perspetivas sobre o impacto da Covid-19 em Portugal e no mundo.
LS/OC