Economista comenta livro «O despertar do humano», de Julián Carrón
Lisboa, 11 jul 2020 (Ecclesia) – João César das Neves, economista e professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), afirmou que a pandemia recordou a dimensão de “fragilidade” de toda a humanidade, num momento em que esta se tinha habituado a “controlar” a realidade.
“Nunca estivemos tão marcados por esta nossa fragilidade”, refere à Agência ECCLESIA.
O docente e autor comentou para o programa ‘70×7’ deste domingo a obra ‘O despertar do humano. Reflexões de um tempo vertiginoso’, de Julián Carrón, presidente da Fraternidade de Comunhão e Libertação (CL).
Para João César das Neves, a crise provocada pela Covid-19 foi uma “irrupção” de realidade que veio recordar a “fragilidade fundamental da humanidade”.Do ponto de vista católico, acrescenta, a resposta é a “presença” de Cristo.“É esta presença que nos salva”, observa.
O entrevistado sublinha que, na suspensão das celebrações comunitárias, por causa da pandemia, “essa presença teve de encontrar um novo meio”, em particular junto dos que mais sofrem.
“A realidade tem um enorme sofrimento, uma cruz”, assinala.
A Igreja tem de estar pronta para uma nova evangelização, do mundo pós-pandemia”.
João César das Neves refere que o vírus veio “pulverizar uma quantidade de ideias feitas”, de modelos, ideologias ou doutrinas.
“O choque é o mesmo para todos. O problema é o que nós fazemos com esse choque”, indica.
Num mundo já marcado pelo “medo”, por causa da violência, da crise financeira ou do aquecimento global, o desafio que se coloca no pós-pandemia exige “humildade” e reconhecimento do que também correu bem.
“A globalização, o sistema de saúde, o Estado ajudaram-nos. Se esta crise fosse há 30 anos, 40 anos, teria sido uma catástrofe muito maior”, sustenta o economista, considerando quem a última grande pandemia, da gripe espanhola, há 100 anos, foi “uma catástrofe muito maior”.
O docente universitário recorda ainda que há 20 anos haveria menor capacidade de teletrabalho, face ao que aconteceu atualmente.
“Temos de ter uma visão equilibrada, o que não é fácil no meio desta tempestade”, observa.
Questionado sobre a resposta dos vários governos, João César das Neves começa por sublinhar que “este é um daqueles casos clássicos em que o Estado tem de intervir”, até porque cada indivíduo tende a “subestimar o impacto que tem na sociedade” o fim do seu próprio confinamento.
Segundo o entrevistado, nem sempre os programas do Estado “tiveram a atenção que deviam” com as classes mais pobres.
“Esta crise manifestou-se muito desigual, quer dizer, os mais pobres foram extraordinariamente mais afetados por esta crise”, insiste.
O economista adverte, no entanto, para manifestações do que qualifica como um Estado muito “pegajoso”, com “muita dificuldade em sair de cena”.
João César das Neves afasta o cenário de um “mundo novo” depois da pandemia e entende que não são expectáveis “grandes mudanças”, face à realidade que se vive.
Para o especialista, apenas as “ideologias” podem pensar num mundo radicalmente diferente, por considera que as mesmas “partem sempre de uma recusa da realidade”.
A entrevista pode ser vista na emissão dominical do ‘70×7’, pelas 17h50, na RTP2.
HM/OC