Covid-19: Misericórdias estão a receber «internamentos sociais» para disponibilizar vagas de internamento nos hospitais

«Cada cama destas que libertamos são vidas que salvamos» – Manuel Lemos

Foto: Lusa

Lisboa, 11 nov 2020 (Ecclesia) – O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) disse hoje que estas instituições estão a receber os chamados “internamentos sociais” para disponibilizar vagas de internamento em hospitais do Porto e Braga, após um protocolo de cooperação com o Estado.

“Os hospitais são locais para terem pessoas doentes não faz sentido que uma pessoa não doente, ou seja com alta clínica, continue a ocupar uma cama hospitalar. É mau para ela, é mau para os outros, é maus para o sistema, é mau em absoluto”, afirmou Manuel Lemos à Agência ECCLESIA.

O presidente da UMP explicou que o assunto tem sido alvo de conversas com vários Governos mas, nesta situação de pandemia, as duas partes entenderam libertar “o mais possível as camas hospitalares, porque podem estar a salvar vida”.

“Preparamos um protocolo de cooperação para acolhermos nas Misericórdias pessoas que não deviam estar nos hospitais. Em si mesmo é uma boa solução e continua no tempo, porque depois talvez valha a pena estudar e avaliar por que é que há pessoas que não podem sair dos hospitais e não têm para onde ir. É uma matéria para todos refletirmos, com tempo”, desenvolveu.

Segundo Manuel Lemos, as instituições já começaram a receber pessoas e, esta segunda-feira promoveram “um grande webinar” com todas as Misericórdias dos Distritos do Porto e de Braga, onde a situçaão é mais grave.

“Cada cama destas que libertamos são vidas que salvamos”, salientou o presidente da UMP.

O decreto governamental do novo estado de emergência abre a possibilidade da requisição dos setores privado, social e cooperativo “preferencialmente por acordo”.

“A cooperação é mesmo isso, sem conflito, ou seja, é uma forma de nós em diálogo civil, em abertura, promovermos a realização da nossa missão, no caso das Misericórdias e das IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), de uma maneira articulada com o Estado. Por isso é que não celebramos contrato com o Estado mas acordos de cooperação”, desenvolveu o entrevistado.

Manuel Lemos disse acreditar que, quer no setor social, quer no Estado, “há toda a disponibilidade para cooperar não um em frente ao outro com o problema no meio, mas uns do lado e o problema do outro lado, e é neste sentido que vale a pena continuar a trabalhar”.

O Orçamento de Estado (OE) para 2021 foi aprovado na generalidade, dia 28 de outubro, e agora os partidos e as duas deputadas não inscritas estão a apresentar propostas para a fase de discussão na especialidade, que começam a 20 de novembro, à qual se segue a votação final global no próximo dia 26.

O presidente da Misericórdias Portuguesas lembra que o OE 2021 “tem um aumento de 2% para a ação social” e lamenta o valor, por considerar que as despesas “cresceram muito”, exemplificando com “o aumento dos salários e do salário mínimo, em especial”, com ERPIS, outros equipamentos de proteção e “as múltiplas despesas” do estado de pandemia.

“O ano passado tivemos um aumento nas estruturas residenciais de 5,5%, este ano tínhamos no mínimo de repetir esse aumento. Faço um apelo ao poderes públicos, muito particularmente ao partido que suporta o Governo: Não basta dizer que o setor social é fantástico, que se apoiam no setor social, é preciso na prática dar prova disso”, apela.

Para Manuel Lemos, “é importante que fique claro que o setor social precisa do apoio do Estado, são complementares”, e são “a grande almofada de todas as crises”, como na crise de 2010.

“É decisivo que o Estado, como outros Estados europeus têm vindo a fazer, se preocupem em apoiar estas organizações não-governamentais extraordinárias que são as Misericórdias e as IPSS”, concluiu o presidente da União das Misericórdias Portuguesas.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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