«Não podemos fazer tábua-rasa da experiência traumática que o último ano representou», afirmam promotores da iniciativa
Lisboa, 02 jul 2021 (Ecclesia) – Um conjunto de personalidades da sociedade civil portuguesa, incluindo responsáveis católicos, vai promover uma jornada de “memória, luto e afirmação da esperança” de homenagem às vítimas da pandemia, com o alto patrocínio do presidente da República, de 22 a 24 de outubro.
“Ao olhar para a fase pós-pandemia na realidade que nos é mais próxima, não podemos esquecer, não podemos fazer tábua-rasa, da experiência traumática que o último ano representou para centenas de milhares de portugueses que viveram e vivem momentos trágicos”, lê-se na declaração enviada à Agência ECCLESIA.
Os promotores da ‘Jornada de memória, luto e afirmação da esperança’ afirmam que não podem, nem querem esquecer as “perto de 900 mil pessoas contagiadas” pelo novo coronavírus, dado que “muitas passaram por situações desesperadas de que estão ainda a recuperar física e psiquicamente”.
Neste contexto, evocam “as mais de 17 mil vítimas mortais”, sublinhando que “grande parte delas sofreu sozinha, morreu longe dos seus e sem possibilidade de um último adeus”.
O manifesto recorda também familiares e amigos das vítimas, as várias categorias de profissionais que trabalharam até ao esgotamento nas linhas da frente.
Para o grupo de cidadãos “é imprescindível” fazer o luto pessoal e comunitário e destacam que é igualmente necessário “afirmar a esperança”.
“Afirmar a esperança será também não desistir de pensar um outro mundo, de questionar o modelo de sociedade centrado no ter e não no ser. Reconhecer que somos todos vulneráveis e interdependentes, que estamos todos no mesmo barco e que reconhecê-lo pode ajudar a superar o medo”, desenvolvem.
A jornada nacional ‘Memória & Esperança’, de 22 a 24 de outubro, pretende “mobilizar” a sociedade portuguesa e suscitar a participação de todas as pessoas e instituições que o desejarem, e “dar densidade, rosto, vida e sentido coletivo” aos números, estatísticas e gráficos que têm sido apresentados, desde março de 2020, quando começou a pandemia Covid-19.
A organização explica que a jornada propõe-se a “prestar tributo” às pessoas que faleceram, a “acolher o sofrimento e as narrativas” dos que foram afetados pela pandemia e suas consequências e “celebrar e agradecer a todos os que cuidaram da saúde e minoraram o sofrimento e a dor de tantos”.
Esta iniciativa que vai também afirmar a “vontade de viver em comunidades que não querem deixar ninguém para trás”, pode ter uma cerimónia nacional, e terá múltiplas iniciativas locais ou setoriais, de carácter livre.
Num dos dias da jornada, vão procurar que os sinos das igrejas toquem ao meio-dia e as famílias vão ser convidadas a colocar, à noite, uma vela num espaço público coletivo ou na janela das suas casas.
Todos os setores e áreas da sociedade portuguesa são convidados a participar, as instituições religiosas, “atendendo à proximidade com as respetivas comunidades e aos rituais próprios que têm para lidar com o sofrimento e a morte”, os órgãos do poder autárquico municipal e de freguesia, as escolas e as instituições educativas, as de saúde, de ação/intervenção social e de proteção civil, as instituições e os atores culturais e os meios de comunicação social.
CB/OC
A 14 de novembro de 2020, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) promoveu uma celebração nacional pelas vítimas da Covid-19, na Basílica de Santíssima Trindade, em Fàtima.
A celebração contou com a presença de 20 bispos católicos; do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa; do primeiro-ministro, António Costa; e de várias entidades públicas que se quiseram associar a esta homenagem de oração pelas vítimas, diretas ou indiretas, da pandemia. A 16 de março deste ano, a CEP promoveu um dia especial de celebrações pelas vítimas da pandemia, associando-se a uma iniciativa da Igreja Católica na Europa, que decorreu ao longo da Quaresma. A 25 de março de 2020, o cardeal D. António Marto presidiu, em Fátima, a uma oração de consagração de Portugal e Espanha ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, a que se uniram mais de 20 países, pedindo o fim da pandemia da Covid-19. Já no último dia 13 de maio, o bispo de Leiria-Fátima presidiu também a outro momento de oração, a recitação do terço, na Capelinha das Aparições, numa etapa da “maratona” de oração promovida pelo Papa, pelo fim da pandemia. |