Covid-19: «Confinamento trouxe alguma invisibilidade às crianças» – Rute Agulhas

Psicóloga assinala que a família «não é para todas as crianças o local mais seguro e mais protetor»

Lisboa, 15 jun 2020 (Ecclesia) – A psicóloga Rute Agulhas considerou “muito preocupante” a quebra em 52% de comunicação de situações de perigo sobre as crianças na pandemia, sublinhando que “os maus tratos e negligência acontecem na maior parte das vezes no seio da família”.

“Este confinamento trouxe alguma invisibilidade às crianças. Crianças que efetivamente passavam parte do dia fora de casa são sempre crianças mais visíveis que muitas vezes dão sinais, uns mais claros, outros mais subtis, mas mesmo que não deem sinais tinham oportunidade também de pedir ajuda”, disse à Agência ECCLESIA.

Para Rute Agulhas, uma quebra de 52% de comunicações de situações sobre menores por causa da pandemia do coronavírus Covid-19, desde março, “são números muito preocupantes” porque os maus tratos e negligência “acontecem na maior parte das vezes no seio da família”.

“Não é para todas as crianças que as famílias é efetivamente o local mais seguro e mais protetor”, assinala, em declarações que são emitidas hoje no Programa ECCLESIA, na rádio Antena 1 da rádio pública, a partir das 22h45.

A psicóloga explica que, a maior parte das vezes, as crianças “pedem ajuda às pessoas em quem confiam” que muitas vezes são “outras pessoas da família, que este confinamento veio também restringir os contactos”, ou os profissionais da educação, do ATL, da escola, da creche, e “este confinamento acaba por deixar estas crianças mais desprotegidas”.

Receamos agora, passado este confinamento, ao tornarem-se progressivamente mais visíveis, que comece a haver um aumento substancial de sinalizações e identificação de situações de perigo. Questionamo-nos é se vamos a tempo, para algumas dessas crianças podemos ir tarde de mais”.

A entrevistada entende que, “na maior parte das vezes, as crianças “não são retiradas à família”, uma ideia que “não corresponde à realidade”, porque a “esmagadora maioria” das situações que são sinalizadas têm medidas “em meio natural de vida” e o objetivo dos técnicos é “ajudar a que a crianças permaneça no seio da família mas aqueles pais, aqueles cuidadores sejam ajudados”.

Rute Agulhas realça que o objetivo das equipas “é conhecer as famílias, estabelecer relação de confiança,” e perceber de que forma “podem ajudar, sempre com o objetivo último de que as crianças cresçam no seio da família” e a Comunicação Social também tem “um papel muito importante” para que “todas as pessoas percebam que é legítimo”.

“Não só em Portugal mas noutros países também ainda há uma conotação negativa, há um olhar negativo sobre esta ideia que os pais possam precisar de ajuda; É importante normalizar, no sentido de retirar este peso negativo: Pedir ajuda é um ato de coragem, pedir ajuda significa que consigo olhar para dentro, olhar para mim, e perceber que tenho fragilidades, todos temos vulnerabilidades, não há pais perfeitos, não há mães perfeitas, e todos podemos beneficiar dessa ajuda”, desenvolveu.

Por sua vez, a presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ), Rosário Farmhouse, explicou que as “comunicações de situações de perigo desceram muitíssimo, 52%”, nos meses de março e abril, porque as “identidades de primeira linha”, quem contactava diariamente com as crianças, “deixaram de estar com as crianças”.

“Foi elaborada uma ficha de sinais de perigo para que os professores virtualmente possam estar atentos a alguns sinais, é verdade que já estamos a retomar creches, jardins-de-infância, mas ainda e mais importante que todos possamos estar atentos”, adiantou.

A partir desta noite, e até sexta-feira, a psicóloga Rute Agulhas e a Rosário Farmhouse são as convidadas do Programa ECCLESIA, na Antena 1.

PR/LS/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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