Covid-19: Cónego Joaquim Nunes prepara-se para «uma Páscoa desejada» e «florida», um ano depois da doença

Seminário de São José, no Algarve, viveu momentos difíceis na primeira vaga da pandemia

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Faro, 25 mar 2021 (Ecclesia) – O cónego Joaquim Nunes, da Diocese do Algarve, prepara-se para “uma Páscoa desejada” um ano depois da experiência de internamento devido à Covid-19.

“Julgo que este caminho de escuta, que aponta sempre para a renovação e para a conversão, vai fazer com que a experiência e a vida que há de brotar da Páscoa deste ano seguramente vai ser diferente”, disse o sacerdote à Agência ECCLESIA.

O cónego Joaquim Nunes explicou que a Páscoa deste ano é “desejada na forma comunitária da celebração” e é uma Páscoa que “vai florir com as sementes” que vieram da Quaresma de 2020, quando testou positivo ao Covid-19 e, mesmo assintomático, esteve internado de 26 de março até 1 de maio, dado que, por causa da esclerose múltipla, “era necessário um tratamento especial”.

“Espero e sei que vai ser uma Páscoa florida, usando o adjetivo não apenas no sentido poético, mas no sentido real e existencial”, acrescentou.

A Quaresma deste ano, e com a experiência anterior, tem sido “mais marcada pela escuta, pela atenção diária à Palavra que em cada dia é oferecida”, uma dimensão que o cónego Joaquim Nunes começou a “experimentar de uma forma muito intensa, particular, o ano passado”, e que está agora a beneficiar “pela memória, pela atualização”.

O sacerdote recorda que a Quaresma 2020 foi vivida a rezar, a ler, e “apreciando muito detalhes, pormenores”, da vida do dia-a-dia que “não aproveitava tanto”.

Estava sozinho, olhava a madrugada, o amanhecer, uma experiência que não fazia há muito tempo, o rodar das nuvens, as cores do céu, os vizinhos dos prédios do outro lado da rua, a chegada das andorinhas. Tudo isso apreciei como graça e agradeci a Deus aquelas surpresas do dia-a-dia que ficava à espera de que viessem ter comigo”.

Segundo o cónego Joaquim Nunes, um tempo que teve a ver com o “converter no olhar em relação às pessoas”, e descobriu no hospital dimensões humanas “de entrega, de serviço, de atenção”, onde “não havia possibilidade de olhar para o por fora”.

Seminário de São José.
Foto: Folha do Domingo

A ressurreição, a Páscoa do ano passado, foi “celebrada em diferido, fora da hora”, o que permitiu ao sacerdote fazer a experiência da “vivência da liturgia da noite pascal de uma forma completamente diferente”, fora dos hábitos e do que é costume das “quase 60 Páscoas” de que se lembra.

“Mas não deixou de tocar, embora reconheça que foi uma experiência muito diferente, não foi dolorosa, foi jubilosa. Mas não sou capaz de dar conta de uma nota que não seja de uma certa estranheza, relativamente às circunstâncias, sobretudo do tempo”, explicou.

No mês de maio contam-se 30 anos que foi diagnosticada esclerose múltipla ao cónego Joaquim Nunes, o qual diz que experimentou sempre uma confiança que “foi sendo renovada na divina providência”.

“Nunca experimentei desânimo, alguma perplexidade sim, mas nem desânimo, nem ansiedade, nem angustia, e também não experimentei qualquer espécie de revolta ou de pensar porque é que isto me acontece a mim. Deus concedeu-me a graça de não experimentar nenhuma destas situações psicológicas e existências”, desenvolveu.

Num tempo em que parece que as pessoas são condicionadas a “valorizar o que é bom, o que é bonito, o que é jovem, o que está bem, o que não tem limitação”, o cónego Joaquim Nunes dá testemunho que continua “a ser um padre realizado no ministério”.

“Contínuo a poder dizer aquilo que disse quando estava no chamado covidário: continuo a ser um padre feliz, realizado como tal e, naturalmente, que a condição e padre não é desencarnada da condição de homem, na vida familiar, com os amigos, com a comunidade do seminário, com o presbitério, na relação com aquele com quem contacto”, concluiu.

CB/OC

O bispo do Algarve recordou que o confinamento de 2020 foi “bastante mais intenso” a nível pessoal, para a Igreja diocesana, para o clero e para as comunidades, com o internamento de dois sacerdotes por causa do Covid-19.

“Esse percurso, esse internamento no qual a diocese se envolveu toda, e depois a sua saída do hospital, embora fragilizados, foi para nós uma Páscoa diferente”, explicou D. Manuel Quintas.

“O facto de poderem sair, de serem acompanhados estando em casa, concretamente no seminário, foi para nós motivo de alegria, foi motivo de ressurreição”, acrescentou.

O bispo do Algarve assinala que, “felizmente”, no espaço de um ano, a nível do clero não houve mais “nenhum caso positivo e isso já foi diferente”, partilhando, contudo, “a dor da Igreja diocesana” com os vários internamentos e falecimentos de membros das comunidades católicas.

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Agência ECCLESIA

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